domingo, 21 de outubro de 2007

Indiana Jungle Tour


Santa Teresa é um lindo bairro carioca. Há por lá tantos turistas que por vezes me sinto uma estrangeira na minha própria cidade. Ainda conserva belíssimas construções datadas do século XIX. Mas o progresso trouxe as favelas. Santa Teresa, com suas famosas ladeiras de paralelepípedos e seus bondinhos históricos convive com o Morro dos Prazeres e uma série de outras comunidades carentes. Esses dias, passando por lá, vi um carro (desses jipes - sei lá se é assim que se escreve - que transportam turistas) pertencente a uma agência de turismo que me chamou muito a atenção. O adesivo colado ao carro dizia "Indiana Jungle Tour", e dentro iam vários turistas com suas imensas câmeras fotográficas em direção à entrada do Morro dos Prazeres. Na verdade é isto mesmo, um safári. É esta a imagem que o turismo propõe das favelas cariocas. E somente turistas com instinto de Indiana Jones têm coragem para tanto.

domingo, 7 de outubro de 2007

Sou cotista, não sou racista.

Sou cotista. Ingressei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em abril de 2004. Todo universitário que ingressa pelo sistema de cotas é de pronto beneficiado por uma bolsa de seis meses, que sempre é renovada por mais seis. Durante este um ano ficamos literalmente “mamando nas tetas do governo”, uma vaca premiada! Recebíamos míseros R$ 190,00 mensais, e não precisávamos fazer nada para justificá-lo, enquanto quaisquer outros alunos não-cotistas e também bolsistas trabalhavam as suas 20h semanais, prestavam conta de sua produção científica em relatórios e recebiam os mesmo R$190,00 mensais. Aí me pego pensando: será que esta é mais uma prática de reparação? Será que por ter antepassados afrodescendentes escravizados pelos eurodescendentes, eles querem agora que a galera da melanina acentuada não precise trabalhar pra receber e que os “branquelos” vão pro eito? Isto já era um absurdo no início, mas a coisa foi piorando. Há pouco mais de um mês um amigo me disse que meu nome estava numa lista para receber uma bolsa de incentivo à graduação (BIG), paga pela FAPERJ. Achei muito estranho que selecionassem uma formanda, bolsista de iniciação cientifica do CNPq, que já recebeu ajuda de custo por ser cotista durante o primeiro ano de faculdade, para ainda receber uma bolsa da FAPERJ. Desta vez eu teria que trabalhar, mas o absurdo ainda está por vir. O negócio é o seguinte, parece que daqui para frente, para ser bolsista será necessário ser cotista. Cada professor tem direito a três bolsas BIG, no valor de R$214,00, que só podem ser concedidas a cotistas. Isto é um absurdo. Bolsa sempre foi uma questão de merecimento, talento, mas passou a ser esmola. E muitos cotistas - os inteligentes, esforçados, merecedores – já são bolsistas de projetos de professores há tempos. Como não se pode acumular bolsas, o que tem acontecido é que não se conseguem cotistas o suficiente para preencher as vagas de bolsas BIG oferecidas. Por outro lado, alunos não-cotistas que moram distante, que não têm emprego, que vêm de famílias pobres, que precisam muito de míseros R$214,00, não podem preencher as vagas ociosas dos cotistas. Isto é racismo, é irascível, é cruel. Eu sou cotista porque descendo de negros (por parte de pai), mas ninguém levou em consideração os meus bisavós portugueses (por parte de mãe). Todos nós somos meio africanos, meio europeus, meio indígenas, e por aí vai. Sou cotista, mas não vão me tornar racista, nazista. Estou aqui tomando as dores dos brasileiros de todas as cores que entram legitimamente numa universidade pública estadual e mesmo merecendo têm o seu direito à recompensa de seu talento negado por uma cambada de idiotas racistas que, infelizmente, estão mandando neste país.