quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Burguesia bebe



No último domingo tive a oportunidade de passar um dia em meio à “burguesia". Eram mais ou menos 10:00h e minha mãe me ligava chamando-me para encontrar com ela na piscina do Iate Club Icaraí. O dia estava lindo, eu não tinha nada melhor em mente e precisava passar um tempo com ela. Fui. Estávamos lá a convite de uma amiga da minha mãe. É aquela velha história: “não tenho dinheiro, ams conheço quem tem!”. Foi tudo ótimo, ela é uma graça de pessoa, extremamente simples e engraçada. Após a piscina e a sauna, ela nos convidou para almoçar em sua casa. Fomos. Lá chegando, mesa posta, convidados e o marido dela à mesa, um suculento peixe cozido nos aguardava. Como de costume, me dediquei a um trabalho de observação enquanto todos almoçavam e conversavam.
Ali se encontravam um pastor, o filho da anfitrião, bem novo, bonito e muito educado, mas que não se demorou muito; um casal, sendo um remanescente de uma família tradicional dos tempos de glória de Macaé, e a sua esposa uma psicólogo secretária guardiã de alguma coisa no Sana (só melembro que ela falou muito de seu cargo durante o almoço); e para finalizar com chave de ouro, o marido da amiga da minha mãe, um psiquiatra e músico arranjador, extremamente esnobe tal qual a esposa do remanescente macaense. Enquanto comíamos, a secretária de alguma coisa não sabia falar em nada diferente da Casa de Monet, que ficava a penas a km de Paris e que eles quatro (o que obviamente excluia minha mãe e eu) tinham que visitar de qualquer maneira. O tempo passava e o psiquiatra arrajandor cada vez mais ficava embriagado de vinho português, minha mãe tentava se inserir naquela conversa numa tentativa de ser agravél – e eu nem ai, apenas me deliciava com os juízos que a tal secretária de alguma coisa fazia de nós duas – e de repente o psiquiatra bêbado interrompeu minha mãe dizendo: “Júlia, você disse o que?”, ao que ela respondeu: “eu disse que sempre dei muita liberdade à minha filha”. Aí ele perguntou: “o que é liberdade?” minha mãe titubeou, e talvez porque ele estivesse muito bêbado, não se deu ao trabalho de responder. Mas eu costumo achar que os bêbados tem na bebedeira um momento de produção intelectual muito interessante. Foi enquanto eu pensava na pergunta dele à minha mãe que o emsmo me inquiriu: “Você é livre?” respondi que aquela era uma dificil pergunta. Ele insistiu, talvez achando que me provaria a sua genialidade numa frase de efeito: “Sabe velejar?”, e eu: “não senhor, não sei”, e talvez achando que eu já estava constrangida e pronta para receber o bote final... “Eu tenho um barco, e sei velejar. Eu sim sou livre, não dependo de nada nem de ninguém. Não preciso de companhia nem de combustível, é só vento e velas”. Deixei que ele curtisse sua vitória intelectual por meio segundo, e quando percebi aquele sorriso de canto de boca, e a satisfação revelada num balançar do vinho dentro da taça, respondi: “Então você não é livre. É escravo do vento!”. Naquele momento o semblante dele mudou, e talvez numa satisfação interna ainda maior por ter sido vencido naquele comabte de palavras e idéias, aceitou: “é, somos sempre escravos de alguma coisa!”. Daí por diante ele não tirava mais os olhos embreagados de cima de mim, com se agora só quisesse beber as palavras daquela garota que ousou desconcertá-lo.
Daí para frente, a secretária de alguma coisa descambou a falar bobagens e claramente discriminar a mim e a minha mãe depois de saber as nossas profissões e onde morávamos. De prpósito não disse a ela que eu era hsitoriadora formada por uma universidade pública e nem comentei as pesquisas e os simpósios, etc. Deixei-a acreditar que faláva apenas com a recepcionista da NOV, alguém que para ela seria vazio de qualquer tipo de cultura. Eu não ia estragar tudo contando a ela. Não ia interferir no meu objeto de estudo a ponto de estragar toda a imparcialidade da pesquisa.
Mas eu não estava errada sobre a capacidade de produção intelectual dos bêbados. Talvez naquele momento o psiquiatra arranjador chegou à mais brilhante conclusão de sua vida: “a gente é sempre escravo de alguma coisa”.
No fim das contas, a secretária de alguma coisa do Sana e compania limitada são como uma ibra do famigerado Monet, linda de longe, mas uma terrível confusão se olhada de perto.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Surpresa!



Existe sensação melhor do que a de ser surpreendido? Não falo aqui de levar um susto, não. Falo do frio na barriga, da vontade inútil de tentar esconder as mãos, como se nelas estivesse escondida toda a vergonha do mundo, falo do sorriso involuntário que é fruto da surpresa. Quando a vida se repete naquela mesmice pobre, quando as coisas e as palavras permanecem no mesmo lugar tanto tempo que só fazem acumular poeira em volta, quando o tédio toma conta, nada melhor do que uma surpresa. E não é qualquer um que tem o dom de surpreender. Importa tanto a iniciativa quanto o modo. Felizardo é aquele que encontra alguém que tem o dom de surpreendê-lo a cada dia e sempre de maneiras diferentes. Surpreenda alguém hoje!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ah! Os Romanos!



Nunca entendi de fato a verdadeira razão da metodologia romana de conquista de território, até agora. Como historiadora eu até que me dava por satisfeita com aquela clássica explicação que rezava que os romanos assimilavam a cultura dos povos conquistados porque – para além da curiosidade natural deles pelo desconhecido – o ser humano em geral tem uma capacidade, ou mesmo uma necessidade, natural de aprender e esta é sempre maior do que a capacidade de desaprender. Na verdade, quando uma pessoa realmente aprende alguma coisa nunca mais consegue se desvencilhar daquele aprendizado, ainda que ele vire apenas uma vaga lembrança. O que fazemos ao longo da vida é aprimorar, nos reinventar, mas sempre baseados num ponto de partida.
Os romanos fizeram isso com os gregos. Conquistaram, submeteram, assimilaram, aprimoraram e subrepujaram. Mas não teriam sido exatamente o que foram se os gregos não tivem desempenhado o seu papel nesta história. O mesmo acontece conosco. Por diversos momentos queremos evitar situações ou apagar da memória momentos ruins de nossas vida. Mas o que não conseguimos perceber é que se a finalidade da guerra é o triunfo, as derrotas em algumas batalhas foi tão importante quanto as vitórias. É como já disseram: “O universo conspira a nosso favor”. E é como diz a Bíblia: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.
Há um tempo atrás, alguém que eu amava muito costumava me dizer as coisas que me aconteceriam no futuro, um futuro que eu não poderia didvidir com ele. Eu achava absurdas todas aquelas bobagens que ele dizia, e durante muito tempo eu quis apagar ele e tudo o que dele eu tinha ouvido durantes aqueles anos. Mas hoje eu vejo que ele estava coberto de razão, todas as profecias dele estão se cumprindo e finalmente percebi que restaram em mim manias que eram dele, coisas que eu criticava e que hoje faço igual (como dormir com os pés descobertos). Mas o mais interessante de tudo é que hoje eu percebo que jamais poderei apagá-lo da minha memória, porque tudo o que sou hoje é fruto dessa simbiose, desse resultado de mim mesma que surgiu depois de conhecê-lo e de ter que “esquecê-lo”. Sofrimento faz crescer, quedas ensinam a levantar e amores que morrem nos ensinam mais coisas boas do que ruins. Hoje sou mais completa, mais realista, mais mulher, mais madura, mais determinada, mais dona de mim. Hoje sei que vale à pena assimilar a cultura do povo conquistado e aprender com ele, mas – tal qual os romanos - também sei que não posso me esquecer quem é o conquistador.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Hegel e o Rock



Esses dias eu estava conversando com o meu padrinho. Conversas com ele sempre são muito interessantes. Era mais um daqueles almoços de família e, numa tentativa desesperada de não ouvir aquelas mesmas histórias de sempre, conversávamos sobre Hegel. Engraçado porque uma das poucas lembranças muito vivas que eu tenho da faculdade é a de uma aula de filosofia na qual o professor chegou anunciando que não se incomodaria em tentar explicar Hegel para a minha turma porque nós seríamos incapazes de entender. Tudo bem, era a opinião dele.
Fato é que naquele almoço de família meu padrinho me fez compreender ao menos o basicão de Hegel. Bem... aí, no final de semana passado eu estava com uma música na minha cabeça que não me largava por nada, e que expressava tudo o que estava sentindo naquele momento da minha vida. E inconscientemente eu me pegava cantando:"should I stay or should I go... tarãrã tãrãrãrã". Um amigo meu, percebendo a minha angústia me apresentou outra música:"Breaking the law, breaking the law
Breaking the law, breaking the law". E a cada vez que eu cantava a primeira ele revidava, e me dizia pra não ser tão racional o tempo todo, porque o tempo passava rápido enquanto eu não me decidia.
No sábado estávamos num encontro de motociclistas e a música chave do show foi "It's my life
It's now or never
I ain't gonna live forever
I just want to live while I'm alive".

Pronto! No dia seguinte eu estava entendendo Hegel à luz de rock and roll. Pensei: "should I stay or should I go" é a tese, "breaking de law" é a antítese e "it's my life" é a síntese. Eureka!
É bem verdade que tenho vivido com mais leveza de lá pra cá.
Obrigada The Clash, Judas Priest e Bon Jovi pelas músicas e letras inspiradoras. E obrigada, Du, pela trilha sonora!

Não sei bem e Hegel ia gostar dessas comparações, mas certamente meu padrinho vai me chamar de louca quando ler isso aqui!