quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Desabafo


Ando num estado de improdutividade intelectual terrível!
Olho para a folha em branco, ou melhor, para a página em branco do word, e não consigo escrever nada coerente, nada que cause orgulho ou satisfação.
É engraçado porque a vida dá uns saltos, faz umas curvas e muda totalmente o nosso foco, o nosso rumo. Há três meses atrás eu me via às voltas com uma seleção para mestrado, uma bibliografia de 10 livros e a obrigação de escrever um projeto de pesquisa de 40 laudas. Hoje vivo rodeada de carretas, peões (extremamente educados e agradáveis), sondas, bobinas, embarques e desembarques, PO's e RT's... Não vejo mais televisão, não leio mais jornais, nem tenho nenhuma bibliografia obrigatória. Pela primeira vez na minha vida pós-acadêmica tenho tempo e liberdade para ler por prazer e somente aquilo que tenho vontade. Mas tudo isso me fez perceber que só sou capaz de escrever com um motivo: quando estou muito triste ou aporrinhada, ou quando me sinto obrigada. Com isso, me meti numa inércia intelectual fantástica, numa preguiça literária fora do comum. Isto me incomoda. Sinto-me como uma árvore seca. Mas, em contrapartida, tenho experimentado coisas e sensações novas pra mim. Talvez sejam essas coisas tão mais interessantes que me fazem deixar em segundo plano essas bobagens acadêmicas. A final de contas, porque ter uma produção intelectual séria e linear aos 22 anos se eu posso ser simplesmente uma jovem normal de 22 anos? Talvez seja isso! Talvez, pela primeira vez, eu esteja me comportando como as pessoas normais da idade...
É isso! Cansei de ser precoce. Aliás, sem falsa modéstia, cansei de ser brilhante. Um pouquinho de inconseqüência não faz mal ninguém. Cansei de querer envelhecer. Viva a juventude!!!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

De Pileque

Se eu não sofresse de aminésia alcoolica, eu escreveria um texto sobre isso...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mudança

Caros leitores,
Há muito tempo não escrevo, mas venho hoje aqui explicar que minha ausência se deve a minha mudança de um modo geral. Nas últimas semanas pedi demissão do meu antigo emprego e consegui emprego numa empresa em Macaé (que fica há 3h da minha antiga residência) e fui morar na casa de uma amiga provisoriamente. Fiquei meio sem inspiração e sem vontade de escrever. Como os meus leitores mais antigos já sabem, escrevo muito mais quando estou mal...
Então é isso, só estou dando uma satisfação e prometo que em breve tentarei escrever alguma coisa que preste!
Beijos a todos, e obrigada pela visita!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama Kent, e o final dos tempos...



Andei pensando... (é isso mesmo! Eu ando e penso ao mesmo tempo.) O mundo todo está eufórico com a eleição de Barack Obama. Pessoas nas ruas, países comemorando como se tivessem ganhado a Copa do Mundo de futebol. Eu mesma fiz campanha para este simpático mestiço, mas agora estou temerosa. Temo porque percebi um detalhe que anuncia possíveis futuros apuros. Trata-se da figura do presidente americano nos filmes de catástrofes naturais produzidos por Hollywood nos últimos anos. Vocês já repararam que em muitos deles o presidente americano é um negão?
Pois é, caros leitores... Obama está no poder! O que esperaremos agora? O impacto profundo? O armagedom? O dia depois de amanhã?
Eu vou ficar de cá só a observar. Mas deixo registrado que, apesar de não ser a versão black do superman – como parecem acreditar os americanos e metade do mundo globalizado, Obama é lindo!!!!

domingo, 2 de novembro de 2008

Do lado de cá da linha do metrô



Subúrbio
Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores

...

Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda

Os comunistas que me perdoem, mas, pior do que um comunista, só um comunista velho. Um bom exemplo de comunista velho e boboca é Chico Buarque. Um cara que tem como fruto maior de seu exílio a paixão pela cidade de Paris (onde se exilou em detrimento da utópica “Cuba Libre”) na qual mantém até hoje um apartamento, para onde “foge” quando quer pensar e descansar.
Este senhor, que outrora fora um exímio compositor, por muitos chamado de poeta, gravou em seu último álbum intitulado “Carioca” (que é uma droga!) uma música extremamente infeliz, tanto na melodia quanto na letra, na qual tenta retratar o subúrbio Fluminense. Na letra da tal música, o poeta da Bossa Nova diz que a única maneira desses subúrbios desbancarem ou competirem com a tal “cidade maravilhosa” é através de suas expressões culturais, já que visualmente é impossível. E chega a dizer que até Cristo deu as costas pra essa gente (afirmação que só mesmo um comunista pode fazer). Acontece que tanto a Baixada Fluminense quanto a Zona Norte têm belezas muito pontuais, inclusive belezas naturais. Eu me arriscaria dizer que as colinas e os morros que não são povoados, que não foram favelizados, têm uma beleza tão particular que chega a sobressair em meio às casas mal-acabadas. As moças douras da música, as que ele acha que só existem na Zona Sul, são muitas vezes “importadas” dos subúrbios. Não sei quantas vezes o nosso veterano visitou os subúrbios, mas eu tenho sido fiel freqüentadora deles ultimamente. Hoje, por exemplo, fui visitar uma amiga que mora em Inhaúma. Desta vez fiz um caminho diferente, que me revelou um bairro diferente. O que vi foi um cenário bucólico, de casas de boneca e vilas de casinhas iguais por todos os lados. Gente nos bares, pessoas conversando nos portões, crianças andando de bicicleta, a praça como ponto de encontro daqueles que um dia foram jovens e que viram tudo mudar. Um lugar tão acolhedor, o único lugar em que vi o muro de uma igreja Batista (a Primeira Igreja Batista de Inhaúma) ser o mesmo muro de uma loja de artigos de candomblé!
O que vi foi um lugar bonito, dentro de sua realidade, com gente bonita e aparentemente feliz. Uma gente que não deve nada par a Zona Sul, a não ser no quesito praia. Ao que parece, Chico passou mais tempo andando de bicicleta às margens do rio Sena que nos subúrbios cariocas.

domingo, 26 de outubro de 2008

Quem tem coragem de ser livre?



Pela Décima Vez
Compositor: Noel Rosa
Intérprete: Roberta Sá

Jurei não mais amar pela décima vez
Jurei não perdoar o que ele me fez
O costume é a força que fala mais forte do que a natureza
E nos faz dar provas de fraqueza
Joguei meu cigarro no chão e pisei
Sem mais nenhum aquele mesmo apanhei e fumei
Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ele é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir
Senti que o meu coração quis parar
Quando voltei e escutei a vizinhança falar
Que ele só de pirraça seguiu com um praça ficando lá no xadrez
Pela décima vez ele está inocente nem sabe o que fez

É incrível como alguns seres humanos não conseguem dizer não a si mesmos, ainda que sabendo que seria o mais acertado a se fazer. Certa feita, conheci um homem sábio - talvez o mais sábio de todos os homens que virei a conhecer - que sempre me dizia que a verdadeira liberdade não é poder fazer tudo o que temos vontade, mas sim, verdadeira liberdade é conseguir deixar de fazer aquilo que mais se tem vontade, ou seja, é conseguir dizer não a si mesmo. Tenho passado por um momento da minha vida em que tenho conseguido, a duras penas, colocar este ensinamento em prática, mas é maravilhoso perceber como, por causa da minha natureza humana, apesar de eu conseguir dizer não à vontade esta não desaparece, me acompanha tal qual um espinho na carne. Aliás, foi assim que o apóstolo Paulo definiu o mal que o acompanhava: “um espinho na carne”.

2 Co 12:7 “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
8 Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.

Um dos dons do espírito é o domínio próprio. Um homem que domina a si mesmo domina qualquer coisa. Nosso maior inimigo é interno e não externo. Quantas vezes somos nós os primeiros a nos prejudicar? A mulher da música de Noel não consegue dizer não a um amor fadado ao fracasso. Quantas vezes ignoramos as evidências? Cabem a nós as escolhas, não existe maldição hereditária, não existe destino que não possa ser mudado pela vontade. Não existe almoço grátis. Não existem inocentes.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os movimentos dentro do “movimento”.

Dia desses eu dizia pra Aline: “O funk são vários movimentos dentro de um movimento”. Uma frase nada original, mas que saiu de um trabalho empírico que tenho feito através da audição de programas de rádios cariocas destinados às classes mais populares. Ficam claros os vários movimentos, as várias castas, os vários grupos dentro da grande “massa funkeira” – que é, aliás, uma expressão do primeiro movimento funk que houve no Brasil no início da década de 1990. Fiz um paradoxo do funk com a minha vida (olhem bem o que horas de ócio atrás de um balcão de loja de roupas de ginástica, num bairro de classe média alta, durante uma crise econômica mundial podem fazer com a mente de uma pessoa) e concluí que ela também tem seus vários movimentos dentro de um único, que é a própria vida, e que estes por várias vezes são movimentos contrários, ou ainda cíclicos. É incrível como uma situação que um dia te causou medo pode passar a ser habitual e que, quando se trocam os atores ou o cenário, pode de repente passar a ser aterrorizante novamente. Este pode parecer um texto cifrado, secreto, e talvez seja, porque fala de mim e de sentimentos meus, mas ao mesmo tempo é um texto que se encaixa à realidade de qualquer pessoa. No fundo, seguimos todos o mesmo roteiro apenas com interpretações diferentes. Buscamos sempre o bom andamento dos nossos “movimentos”, buscamos sempre nos movimentar. A diversidade é boa, a adversidade é quem complica tudo...
O ruim de tudo isso, é que não fui uma boa historiadora na medida em que me deixei influenciar pelo meu objeto de estudo (agora estou estudando os pagodes...) e ele tem até me encantado em algum aspecto. Voltei a ter medo do que já era banal, voltei a desconhecer aquilo no que já era catedrática, voltei a desprezar o que desejava. São os ciclos, os movimentos. A gente sempre volta pro lugar de onde partiu, mas cada recomeçou traz um cenário totalmente novo que é capaz de tornar irreconhecível a mais famosa das histórias.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Santa Teresa niteroiense




Ontem caminhava pelo calçadão, como de costume, quando resolvi sair da minha rota diária e entrei pelas ruas do bairro de Boa Viagem. Para os leitores que não conhecem, Boa Viagem é um bairro de Niterói às margens da Baía de Guanabara. Eu nunca tinha feito esse caminho, não sabia o que ia encontrar direito. Maravilhosa foi a minha surpresa quando ao entrar na rua me deparei com vários casarões do final do século XIX e início do XX, a maioria precisando de reformas e cheirando a gato, mas todos lindos e imponentes. Aí percebi que todo o bairro era cheio desses casarões e que, não fosse pela falta de ladeiras, a Boa Viagem me lembra muito Santa Teresa (um bairro histórico e rico em casarões e expressões culturais do Rio de Janeiro).
Boa Viagem, o nome já diz tudo! Ao andar por aquelas ruas, fiz uma viagem no tempo. Nós pouco reparamos no que está à nossa volta. Eu moro aqui há 21 anos e não conhecia aquele lugar, ou pelo menos não tinha reparado nas suas belezas. Viver bem é muito barato, basta que nós consigamos perceber o óbvio e fazer silêncio pra ouvir o que os sons que nos rodeiam estão dizendo.
Você já foi até a janela hoje e parou por pelo menos 10 min pra ver o céu, pra olhar um passarinho, ou simplesmente para parar? Este devia ser o nosso exercício diário!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Chamem os Jesuítas, chamem o Bope, chamem a Dona Gioconda!

Alguém faça alguma coisa! Alguém se manifeste!
Sou só eu que estou percebendo? Brasileiros, levantai-vos! Estamos em pleno ano 2008 e ainda somos reféns dos índios. O que é isso minha gente? Ninguém mais tem índio, só nós.
É uma palhaçada o que está acontecendo no Norte do país. É uma palhaçada a gente ter que dar quase que a metade de um Estado para se fazer uma reserva para "índios", ainda mais índios que usam calças, dirigem carros e falam ao celular. O que aconteceu com os sinais de fumaça?
Querem nos convencer de que aqueles meliantes são apenas selvagens indefesos, mas eles são aqueles que andam com facões afiados, machucando pessoas inocentes e fazendo reféns. Isto é um absurdo! O que Locke, Hobes, e tantos outros grandes homens do passado diriam se nos vissem fazer a manutenção, e pior, se nos vissem incentivando o estado de natureza, a selvageria na qual estas pessoas vivem ainda nos dias de hoje? É motivo de vergonha diante do resto do mundo minha gente! Aí vêm aqueles babacas, defensores de sabe-se o que, falar em preservação da cultura indígena. O que estamos vendo não cultura indígena é a anomia e é a ausência de qualquer cultura, de qualquer ranço de civilização. Fazer reféns é um ato terrorista que deve ser punido.
A gente tem é que civilizar essa gente, dar escola, dar trabalho, eles são gente como qualquer outro brasileiro. Quinhentos anos se passaram, foi tempo suficiente pra esses povos indígenas serem integrados à sociedade. Aí vem a parte que eu não entendo: os índios não podem ser punidos, mas podem ser beneficiados? Não podem ser punidos ou presos quando fazem reféns ou dão com o facão em alguém, mas podem ter cotas em vestibulares e concursos? Que julgamento é esse?
Eu me sinto envergonhada por estar inserida num país pitoresco, selvagem e totalmente dominado por esquerdistas e suas massas de manobra: índios, quilombolas, mst.
O ministério público procura culpados por insuflar os índios contra os "homens brancos", por comprar pra eles facões...
Compatriotas do meu Brasil, ainda bem que os canibais já não mais habitam estas terras do Novo Mundo...
Fico por aqui, pra bom entendedor, meia palavra basta.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O que você vê?

Sabe aqueles testes psicológicos nos quais os caras te mostram figuras borradas? Aqui nosso desenhista era melhor. Se vc gosta de arte contemporânea, aqui está a oportunidade de várias interpretações para uma mesma obra. O pior é que sempre esteve aqui e eu nunca percebi.
Estava eu na sala da minha amiga Aline, quando ela e seu irmão me ofereceram diferentes interpretações para o comportamento da tartaruga que aparece atravessando a rua no topo desta página.
O desafio está lançado: o que você vê?
Demitrius acha que o réptil está pedindo carona. Aline acha que o bicho está atravessando calmamente sem ligar para o caminhão que se aproxima. Eu acho que a bicha está desesperada pelo simples fato de não saber correr. E você? Aqui você decide!

domingo, 18 de maio de 2008

Medo



Hoje vi como somos capazes de criar monstros quando estamos com medo. Pude entender como uma criança que tem medo de escuro é capaz de imaginar que a sombra do galho de árvore que tremula na parede do quarto no ritmo do vento seja um monstro terrível e aterrorizador. Quando temos medo, fazemos de coisas pequenas monumentos. Nos últimos dois anos tive muito medo de uma coisa, eu a achava muito grande, muito poderosa, muito linda, irresistível e inconcorrível (com a licença do neologismo). Hoje vi como era pequeno, insignificante, fraco, comum, sem graça o motivo do meu medo. Como somos patéticos quando estamos acordados e como somos ingênuos enquanto dormimos.
Daqui pra frente vou tentar me convencer de que não há nada, somente uma sombra de um galho balançando estampada na parede do meu quarto escuro.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Ausência

Estive fora durante muito tempo. Meu monitor queimou e estou completamente excluída do mundo digital. É bem verdade que não tenho tido vontade de escrever nada, minha alma está muito em para escrever. Como eu já disse, só escrevo bem quando estou sofrendo, só sou criativa quando estou aflita. Então, é melhor eu esperar mais um pouquinho para postar coisas interessantes aqui.
Bem, agora que vcs já sabem que eu não morri, fiquem em paz e até a volta!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

La renuncia

Ontem foi um dia histórico, um dia feliz. Fidel renunciou, e eu brindei com Coca-Cola!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Eu vivia cheio de esperança, e de alegria...



Ah, quantas lágrimas eu tenho derramado
Só em saber que não posso mais reviver o meu passado
Eu vivia cheio de esperança
E de alegria eu cantava, eu sorria

Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás
Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás

Só melancolia os meus olhos trazem
Ai quanta saudade a lembrança traz
Se houvesse retrocesso na idade
Eu não teria saudade da minha mocidade

Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás
Mas hoje em dia eu não tenho mais
A alegria dos tempos atrás.
(Manacé)

Não ando muito boa para escrever. A verdade é que não ando muito boa, em todas as acepções da palavra. A saúde fraca, a memória ruim, a confiança desconfiada. Há exatos quatro anos eu tinha todos os sonhos que uma menina de 17 anos pode ter. Acabara de terminar o colégio e passar no vestibular, uma faculdade me aguardava com todas as suas surpresas e atrativos. Era um mundo novo que se descortinava diante dos meus olhos. Eu imaginava o tema da monografia, o mestrado e o doutorado que eu queria terminar antes dos 30 anos.
Hoje, aos vinte e um anos recém completados, terminei os oito períodos do curso de História da UERJ e acabo de entrar para as estatísticas: sou a mais nova desempregada do Brasil. Aí parece que todos os sonhos eram bobagens de adolescente, parece que tudo foi em vão e que eu devia ter ouvido o meu pai, que sempre quis que eu fosse uma advogada. Parece que o ensino superior só me serviu para garantir uma cela especial – se bem que, do jeito que vai o nosso sistema carcerário, não sei não... – para o caso de uma desgraça. Vivi coisas boas na faculdade, é verdade. O que me incomoda é ver o quanto estou insatisfeita com os rumos que minha tomou nestes últimos anos sendo eu ainda tão jovem. Ontem eu observava o meu pai (papai tem 68 anos e é cardíaco) durante a novela das 21h, ele não anda muito bem e tem sentido algumas dores. Vi o quanto meu pai está debilitado, com um semblante de alguém que sente dores e está cansado. Ele ainda levanta todos os dias às 04:00h para trabalhar. Aí quis imaginar como ele se sente agora, depois de tantos anos vividos e trabalhados. Será que ele também se incomoda com a vida que teve, com as coisas que não viveu, com a profissão que escolheu? Não sei, só sei o que vejo no olhar do meu pai: cansaço.
Viver cansa, em muitos momentos. Fazer escolhas também cansa, mas cansa ainda mais analisar o resultado das escolhas feitas. De onde vem a tristeza e desapontamento? Por enquanto fico com a triste constatação de que não pode ganhar dinheiro fazendo o que se gosta neste país, talvez daqui quatro anos eu faça esta mesma reflexão depois de ter me formado num outro curso.


Imagem: http://olhares.uncovering.org/v/eros/driben/driben23.jpg.html

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Feminismo nada!


Dia desses estava conversando com a única pessoa que ouve e entende os meus devaneios. Ouve e entende não só porque me ama, mas também porque é um homem muito inteligente. Falávamos sobre o papel da mulher na sociedade. Tudo porque, dada hora, ele me perguntou o que eu achava do feminismo. Minhas opiniões são quase sempre polêmicas e radicais, então respondi: “Feministas são, geralmente, mulheres mal amadas. É falta de marido!”. Ao que ele respondeu: “Que é isso, Ana Maria?” (é que ele sempre me chama de Ana Maria quando me excedo ou faço loucuras). Aí tive que explicar como vou tentar fazer aqui agora.
Pensem comigo. Há um preconceito enorme para com a condição de dona de casa, e para com as mulheres que sentem prazer em não ter uma carreira e se dedicarem exclusivamente ao lar e à família. Ao mesmo tempo, este pensamento pseudo-intelectual e politicamente correto do pós-guerra, que reza que as mulheres têm que buscar as mesmas oportunidades que os homens no mercado de trabalho, ignora a reação em cadeia que é promovida no seio familiar a partir da saída da mãe e mulher para o mercado de trabalho. Desculpem-me as feministas de plantão, mas, antigamente, mulher não ficava em casa cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos por simples exploração e crueldade do cônjuge não. A mulher desempenhava um papel crucial na formação do cidadão, na formação do caráter. Ela era a responsável pela formação de homens e mulheres decentes. Ela desempenhava no seio familiar um papel que o marido seria incapaz de assumir. E não há vergonha nem desonra em ser “do lar”, muito pelo contrário: é a mulher o suporte, as vigas de sustentação, da grande obra da vida de um grande homem. A partir do momento que as mulheres passaram a sair de casa para trabalhar, tudo mudou. A criação dos filhos passou a ser responsabilidade de terceiros, em muitas vezes pessoas estranhas. Trabalhando o dia todo, a mãe não acompanha as evoluções mais importantes da vida do filho, não tem tempo nem paciência para as crianças quando chega em casa, leva para o seio familiar os aborrecimentos do ambiente de trabalho, não tem tempo para o marido. O papel que era ocupado pela mulher fica vago, as crianças se criam sozinhas, muitas vezes são por demais mimadas como que numa tentativa de compensar a atenção e o carinho que não pode ser dado por falta de tempo. Teremos em breve uma família com problemas de relacionamento, filhos que não respeitam pais e marido e mulher que não se entendem. Famílias desestruturadas, divórcio.
Não quero aqui dizer que mulheres não podem trabalhar. Podem e devem, se for isso o quiserem. Quero aqui mostrar que não pode ser considerada vergonha, não pode ser marginalizada a opção de algumas mulheres de serem exclusivamente genuínas mães e esposas, mulheres que vivem para a família. Isto não é vergonha, é mérito.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Escrever?

A Ana e o Mineiro andam me cobrando novos textos. Esses dois são meus únicos leitores fiéis, acho mesmo que eles são meus únicos leitores mas já não importo mais com esta coisa de “será que estão lendo o que eu esrevo?”. A verdade é que escrever é um ato solitário e egoísta. Uma vez assisti uma entrevista com um poeta e ele disse justamente isto, ele dizia que o poeta, o escritor em geral, é um ser aflito, um atormentado, que tem nos textos que escreve uma fuga, uma maneira de despejar sobre o leitor todas as suas aflições. Escrever, então, seria um ato egoísta e até cruel para com o leitor. Hoje compreendo e até concordo com aquele poeta, do qual não me recordo o nome mas não me esqueço do rosto, pois eu que não sou nenhuma poetisa só consegui escrever alguma coisa que presta quando estou com raiva, triste, nervosa, meus textos são sim desabafos. E não me importa se dois ou três, ou mil pessoas vão ler, o simples fato de postar aquilo parece me tirar a responsabilidade das costas, é como se eu tivesse transferido o que me incomoda para outro alguém. Ao mesmo tempo, ver amigos queridos, que adquiri através do blog, me cobrarem textos porque gostam de me ler e sentem falta é algo maravilhodo e extremamente gratificante. Todos podem escrever. Quem acha que não sabe ou consegue escrever é porque não sofreu o necessário. Certa vez perguntaram ao Gabriel Garcia Marquez (acho que foi a ele que perguntaram) o que era necessário para escrever tão bem. Ele respondeu: “Sofra”.
Escrever é desesperar-se e aliviar-se.