domingo, 7 de outubro de 2007

Sou cotista, não sou racista.

Sou cotista. Ingressei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em abril de 2004. Todo universitário que ingressa pelo sistema de cotas é de pronto beneficiado por uma bolsa de seis meses, que sempre é renovada por mais seis. Durante este um ano ficamos literalmente “mamando nas tetas do governo”, uma vaca premiada! Recebíamos míseros R$ 190,00 mensais, e não precisávamos fazer nada para justificá-lo, enquanto quaisquer outros alunos não-cotistas e também bolsistas trabalhavam as suas 20h semanais, prestavam conta de sua produção científica em relatórios e recebiam os mesmo R$190,00 mensais. Aí me pego pensando: será que esta é mais uma prática de reparação? Será que por ter antepassados afrodescendentes escravizados pelos eurodescendentes, eles querem agora que a galera da melanina acentuada não precise trabalhar pra receber e que os “branquelos” vão pro eito? Isto já era um absurdo no início, mas a coisa foi piorando. Há pouco mais de um mês um amigo me disse que meu nome estava numa lista para receber uma bolsa de incentivo à graduação (BIG), paga pela FAPERJ. Achei muito estranho que selecionassem uma formanda, bolsista de iniciação cientifica do CNPq, que já recebeu ajuda de custo por ser cotista durante o primeiro ano de faculdade, para ainda receber uma bolsa da FAPERJ. Desta vez eu teria que trabalhar, mas o absurdo ainda está por vir. O negócio é o seguinte, parece que daqui para frente, para ser bolsista será necessário ser cotista. Cada professor tem direito a três bolsas BIG, no valor de R$214,00, que só podem ser concedidas a cotistas. Isto é um absurdo. Bolsa sempre foi uma questão de merecimento, talento, mas passou a ser esmola. E muitos cotistas - os inteligentes, esforçados, merecedores – já são bolsistas de projetos de professores há tempos. Como não se pode acumular bolsas, o que tem acontecido é que não se conseguem cotistas o suficiente para preencher as vagas de bolsas BIG oferecidas. Por outro lado, alunos não-cotistas que moram distante, que não têm emprego, que vêm de famílias pobres, que precisam muito de míseros R$214,00, não podem preencher as vagas ociosas dos cotistas. Isto é racismo, é irascível, é cruel. Eu sou cotista porque descendo de negros (por parte de pai), mas ninguém levou em consideração os meus bisavós portugueses (por parte de mãe). Todos nós somos meio africanos, meio europeus, meio indígenas, e por aí vai. Sou cotista, mas não vão me tornar racista, nazista. Estou aqui tomando as dores dos brasileiros de todas as cores que entram legitimamente numa universidade pública estadual e mesmo merecendo têm o seu direito à recompensa de seu talento negado por uma cambada de idiotas racistas que, infelizmente, estão mandando neste país.

3 comentários:

Barrão disse...

bela contramão!
não sou cotista, mas sou pró-cotas, ou no mínimo, pró-discussão das cotas. justamente para não ocorrer esse racismo velado. o que você chamou de esmola é isso mesmo, um racismo velado.
essas coisas tinham que ser discutidas abertamente. bolsa big ou bolsa bic? se for a primeira opção eu não conheço... colé dessa bolsa?

ah...
prazer, sou barrão.
e namorar livros acho que tá virando um estilo de vida disseminado... jajajaja

beijo beijo

Ricardo Rayol disse...

O sistema de cotas é uma das coisas mais bizarras produzidas pelo atual governo. A meritocracia que se dane pelo jeito. Fiz vestibular para uma universidade pública e não entrei, apesar d eter ficado muito bem colocado obrigado, por ter estudado em escola paga. O que diz aqui só confirma minha opinião.

*Mr. Tambourine* disse...

Caramba Ana!!!
Tá afiada hein?
Então, como disse o barrão, sou a favor das cotas também. Mas, espere! Sou a favor das cotas sociais... Acho que a maioria dos problemas brasileiros podem ser resolvidos pela redistribuição de renda, vide Celso Furtado.
E além do mais, este argumento do mérito é ultrapassado. Quando os liberais utlizavam era para explicar o processo do mercado e não o processo social. Quando a sociedade é muito desigual, e o prórpio Hayék confirma, a sociedade não pode operar pelo mérito individual, ela tem que corrigir os erros de mercado através da política social focalizada, no caso dos egressos da escola pública...

Então é isto!
bjao!!