quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Sagrado Coração
O ano letivo está acabando, começam as ofertas de currículos por parte dos professores. Eu, uma “aspira”, fui nesta manhã deixar alguns pelas escolas pelas quais passava. A segunda na qual entrei era uma instituição católica de ensino chamada “Colégio do Sagrado Coração”. O lugar é lindo, apesar de se situar no centro de São Gonçalo. A primeira pessoa que vi foi uma freira de sorriso cândido – sempre tenho a impressão que todas elas aprendem a sorrir de maneira igual nos conventos – e rosto mimoso. Me dirigi à secretaria e perguntei: “Posso deixar aqui o meu currículo?”. Uma mulher de voz impaciente, que ficava atrás de um vidro espelhado de maneira que não era possível ver seu rosto, me disse: “Pode, mas escrava no currículo a sua religião”. Achei a exigência não só sem propósito, mas ameaçadora. Pela primeira vez na minha vida me senti perseguida, ameaçada ou discriminada. Ou, pelo menos, prestes a ser vítima destas coisas. Fiz uma vaga idéia do que os judeus e os muçulmanos sofrem por aí, e até mesmo aqueles cristãos que morrem na janela 10:40. Perguntei com a voz trêmula, mas num tom irônico: “é quesito eliminatório?”. A mulher de voz impaciente me respondeu impacientemente: “Não. É só pra saber”. Independente do que ela respondesse – apesar de eu ter feito a primeira comunhão quando criança – eu não daria outra resposta senão a que dei. Escrevi no topo da folha “Protestante – Igreja Evangélica Congregacional”.
Saí de lá achando que aquilo era um absurdo, talvez devesse ser até inconstitucional. Onde já se viu? Vivemos numa democracia, num país livre e capitalista onde as pessoas deviam ser contratadas pelas suas competências e não fazer processos seletivos onde a religião fosse um fator eliminatório. Depois, continuando a pensar no episódio me perguntei: “Por que será que não perguntaram também a minha opção sexual? Ou se eu era a favor do aborto, dos métodos anticoncepcionais ou mesmo do uso da camisinha?”. A resposta logo me veio. Eles não podem perguntar a opção sexual porque isto poderia implicar num processo de preconceito. Sabemos como as minorias – que já são quase maioria – se unem e punem. Eu dou aula de história e não de religião. Não faz sentido que a minha religião seja item constante do meu currículo, ainda que seja para uma instituição católica e privada. Mas espero sinceramente que a religião não seja um quesito eliminatório, porque me agradou muito o aspecto físico do lugar.
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4 comentários:
Brilhante texto.Que cristãos são esses da janela 10 e 40? E que cristãos são esses que dirigem esse colégio, hein? Mas não tome a Santa Madre por isso. Se fazem da religião um critério de admissão de professores (que não vão ensinar religião), são uns católicos burros. E burros há em todo canto. Por que você não se queixa ao bispo? Quem é o bispo de Niterói? Se eu fosse você me queixava, mesmo estando fora do redil. Ah, qual é?
Tá de brincadeira Ana!
Sério?
Que isso!
Eu consigo entender a posição do colégio, se ele estivesse ainda no século XIX... Ai sim dá para entender!
Então, tenho certeza que este fato não vai ser um empecilho para você conseguir a vaga. Afinal, estudei em colégios católicos a minha vida inteira e tive professores de várias religiões... Acho que o que AINDA conta é o mérito!
bjao!!!
Olá, bom sempre entro aqui pra ler seus textos e nunca deixei nenhum comentario porque eu não tinha "blog". Então decidi fazer um, pra poder comentar aqui, o que você escreve sempre é muito bom, dá pra entender seu posto de vista sabe?!(rs)E eu gostei, por isso me inspirei a fazer um pra mim!
Não estou muito craque ainda, é só o começo, mas saiba que me inspirei em você e de alguma forma você que eu nem conheço fez parte da minha vida, e me incentivou a escrever um pouco mais, coisa que eu gosto muuuuito!Obrigada...rs!
E se puder me dar algumas dicas de como mexer "nessa coisa", eu agradaceria imensamente!
Até mais.
Ahhhh, e mais uma coisa interessante, como você pode ver meu nome também é Ana Luiza...
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