quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Prometo!
Ana Luiza: _ Tem um livro ótimo, que você precisa ler. O nome assusta, mas é muito bom. Chama-se “memórias de minhas putas tristes”...
Renato: _ Aff! Garcia Marques?! Eu já ouvi falar desse livro, mas tenho nojo do Gabriel Garcia Marques. Eu sou assim, quando não gosto do autor, tomo raiva da obra... se bem que ele escreve muito bem!
Ana Luiza: _ Tudo bem, o Garcia Marques é um comunista imbecil, mas escreve bem pra caramba! Mas eu também sofro desta doença, sou assim com Chico Buarque, o cara compõe como ninguém, mas é um idiota. Comunista idiota! Acaba que por não gostar dele, me privo de ouvir as músicas dele!
Renato: _ Exatamente isso. Eu também não vou com Chico, comunista de merda! Mas do Garcia Marques eu já li várias coisas. Quando Li “Cem anos de solidão” então...
Ana Luiza: _ “Cem anos de solidão” eu nunca li, dizem que é muito bom.
Renato: Puta que pariu, você tem que ler! Mas o cara é um merda.
Mas eu sou o pior tipo de comunista que existe...
Ana Luiza: _ Comunista arrependido?
Silêncio, e em seguida uma sonora e longa gargalhada.
Renato: (ainda rindo) _Como você sabia?
Ana Luiza: _ Análise do discurso. Convivi muito tempo com um comunista arrependido. Ainda bem que vocês se arrependem!
Daí para frente a conversa fluia me fazendo lembrar muitas coisas e, no final de tudo, admitir: ex-comunistas são pessoas muito cultas e interessantes. Isto não se dá por terem deixado de ser comunistas, mas pelo hábito que os intelectuais de esquerda têm de ler tudo lhes é sugerido pelo partido ou pela corrente de pensamento, com uma disciplina e exercício de memória impressionantes, hábito este que os acompanha por toda a vida. O resultado é: mesmo que o cara deixe de ser de esquerda, ele continuará lendo e se tornando cada vez mais culto. Eles têm uma facilidade incrivel de ler coisas boas ou ruins e tirar delas o melhor. Invejo isto, porque sempre fui muito seletiva com as minhas leituras. Nunca consegui ler aquilo que eu achava imbecil ou ruim. Nunca consegui pensar em modos de produção ou em grupos que, ainda que compreendendo pessoas, obedeçam a padrões de comportamento e pensamento. Isto não funciona nem com animais...
Confesso que esta minha “intransigência” fez de mim uma “intelectual limitada”. Por isto vou fazer o caminho inverso. Enquanto todos os meus colegas de faculdade, tendo chegado na UERJ jovens de esquerda e revolucionários - uns marxistas, outros trotskistas e outros ainda maoístas – tendem a se tornar um dia homens de direita cultos e sensatos (infelizmente nem todos o farão), eu que cheguei e me mantive cristã e de direita vou tentar ler de coração aberto (e sem deboches nem preconceitos) a literatura de esquerda. Isto é uma promessa, caros leitores!
É claro que vou começar pelos mais inteligentes, e que fique bem claro: Recuso-me a ler qualquer coisa que nosso atual presidente venha um dia a publicar, me basta ouví-lo.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Como é bobo ser jovem! Como é bom ser bobo!
Como os mais próximos sabem, sou temporão. Meu pai é muito mais velho que minha mãe e, por consequência, eu sou muito mais nova que meus primos. Por motivos óbvios, cresci sempre cercada de gente velha, de primos que pareciam tios e tios que pareciam avós. Me acostumei a assuntos maduros, sempre tive facilidade de convivência e até mais afinidade com pessoas mais velhas. Com o tempo passei a procurar também a amizade de pessoas muito mais velhas do que eu, por achar que as pessoas da minha idade não tinham maturidade pra conversar comigo. Achava adolescentes e pessoas com menos de 30 anos uma gente chata e desinteressante... cheguei até a levar essas convicções para a vida amorosa. Mas, como diria o sábio Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas. Deus me levou pra começar uma vida nova numa cidade praiana e turística, num ramo onde as pessoas começam muito jovens. Nesta última sexta-feira me peguei observando a mesa a qual eu estava sentada com uns amigos de trabalho. O impressionante é que 90% dos integrantes da mesa tinham nascido na segunda metade da década de 1980. Gente, pela primeira vez eu estava sentada à uma mesa onde todos conheciam os meus desenhos animados que eu. E pela primeira vez eu passei a noite terminou sem eu ouvir nenhuma única vez aquela temida frase: “Você não se lembra, isso não é do seu tempo!”. Pela primeira vez eu não precisei desejar envelhecer pra me sentir bem num meio social.
Deus quando faz uma obra na nossa vida não a deixa inacabada, nem malfeita. Ele está restaurando cada pedacinho meu que tinha caído da pintura original.
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