quinta-feira, 13 de setembro de 2007

As voltas que a vida dá

Por vezes me pergunto se é o homem quem faz o meio ou o meio quem faz o homem. Meu pai – que sempre se quis sábio – repete aos quatro ventos que quem é bom nasce feito, e que boa índole não se aprende, nasce-se tendo ou não. Não concordo com ele. Acho que a boa educação pode resolver quase tudo. Há um versículo bíblico que diz: ensina a criança no caminho em que deve andar, e quando crescer não se desviará dele. Estes dias perdi um amigo. Não para a morte, mas para a criminalidade, que é uma morte muito pior. Aí fiquei pensando novamente nesta disputa naturalismo x realismo. Fiquei pensando qual foi o motivo, o que o levou a entrar nesta vida, e até coloquei a culpa no meio onde ele estava inserido. Mas a verdade é que morar no morro não é prerrogativa para ser bandido, e que o sistema não é culpado pelo desvio de caráter das pessoas. Ser pobre não é justificativa para cometer crimes, violência, ou para rebeldia.
Ele era um menino maravilhoso, e sei que ainda é. Mas a vida é cheia de caminhos tortuosos pelos quais nos deixamos enveredar por diversas vezes. Mas nunca é tarde para voltar atrás, e espero que, assim que ele pagar o que deve à sociedade, volte aos bons caminhos os quais um dia deixou.
Me sinto culpada por não ter estado por perto, por não ter conseguido evitar que as coisas chegassem aonde chegaram, mas agora é tarde.
Meu coração sangra só de imaginar que aquele menino, que chegava a ser bobo de tão pacífico, esteja agora numa penitenciária, dividindo um cubículo imundo com sabe Deus mais quantos desafortunados iguais a ele, sob uma acusação da qual será difícil de se livrar.
Pois é. O que eu poderia ter feito, não fiz. Agora é tarde.
Uma das pessoas que mais amo sempre me diz que um homem morre várias vezes nesta vida. Fiquem por perto dos seus amigos, não deixem que eles virem ovelhas perdidas.

3 comentários:

Prill disse...

[first lines]
Frank Costello (Jack Nicholson): I don't want to be a product of my environment. I want my environment to be a product of me. Years ago we had the church. That was only a way of saying - we had each other. The Knights of Columbus were real head-breakers; true guineas. They took over their piece of the city. Twenty years after an Irishman couldn't get a fucking job, we had the presidency. May he rest in peace.
That's what the niggers don't realize. If I got one thing against the black chappies, it's this - no one gives it to you. You have to take it.
(The Departed - Os Infiltrados - Scorsese)

*Mr. Tambourine* disse...

Oi Ana!
Linod texto, mas é pena isto ter acontecido.
Realmente, a coisa está ficando feia.
Cada dia mais o caminho do crime está mais encantador.
Tá ficando difícil competir com este caminho.
Espero que o seu amigo tenha a paz de espírito necessária para não se corromper mais.
Bjao!!

Prill disse...

perdão pela preguiça na hora de traduzir, deixa eu eu ver se faço agora:
[primeiras linhas]

Frank Costello: Eu não quero ser um produto do meu meio. Eu quero que o meu meio seja um produto meu. Anos atrás nós tinhamos a igreja. Era como se dissesse - temos uns aos outros. Os Cavaleiros de Colombo eram durões, autênticos italianos. Toram seu pedaço da cidade. Vinte anos depois, depois do tempo que nenhum irlandês conseguia arranjar uma merda de um trabalho, estávamos na presidência - que descanse em paz. É isso que os negros não compreendem. Se tenho alguma coisa contra os pretos é isto: ninguém te dá nada; você tem de tirar