domingo, 26 de outubro de 2008

Quem tem coragem de ser livre?



Pela Décima Vez
Compositor: Noel Rosa
Intérprete: Roberta Sá

Jurei não mais amar pela décima vez
Jurei não perdoar o que ele me fez
O costume é a força que fala mais forte do que a natureza
E nos faz dar provas de fraqueza
Joguei meu cigarro no chão e pisei
Sem mais nenhum aquele mesmo apanhei e fumei
Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ele é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir
Senti que o meu coração quis parar
Quando voltei e escutei a vizinhança falar
Que ele só de pirraça seguiu com um praça ficando lá no xadrez
Pela décima vez ele está inocente nem sabe o que fez

É incrível como alguns seres humanos não conseguem dizer não a si mesmos, ainda que sabendo que seria o mais acertado a se fazer. Certa feita, conheci um homem sábio - talvez o mais sábio de todos os homens que virei a conhecer - que sempre me dizia que a verdadeira liberdade não é poder fazer tudo o que temos vontade, mas sim, verdadeira liberdade é conseguir deixar de fazer aquilo que mais se tem vontade, ou seja, é conseguir dizer não a si mesmo. Tenho passado por um momento da minha vida em que tenho conseguido, a duras penas, colocar este ensinamento em prática, mas é maravilhoso perceber como, por causa da minha natureza humana, apesar de eu conseguir dizer não à vontade esta não desaparece, me acompanha tal qual um espinho na carne. Aliás, foi assim que o apóstolo Paulo definiu o mal que o acompanhava: “um espinho na carne”.

2 Co 12:7 “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
8 Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.

Um dos dons do espírito é o domínio próprio. Um homem que domina a si mesmo domina qualquer coisa. Nosso maior inimigo é interno e não externo. Quantas vezes somos nós os primeiros a nos prejudicar? A mulher da música de Noel não consegue dizer não a um amor fadado ao fracasso. Quantas vezes ignoramos as evidências? Cabem a nós as escolhas, não existe maldição hereditária, não existe destino que não possa ser mudado pela vontade. Não existe almoço grátis. Não existem inocentes.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os movimentos dentro do “movimento”.

Dia desses eu dizia pra Aline: “O funk são vários movimentos dentro de um movimento”. Uma frase nada original, mas que saiu de um trabalho empírico que tenho feito através da audição de programas de rádios cariocas destinados às classes mais populares. Ficam claros os vários movimentos, as várias castas, os vários grupos dentro da grande “massa funkeira” – que é, aliás, uma expressão do primeiro movimento funk que houve no Brasil no início da década de 1990. Fiz um paradoxo do funk com a minha vida (olhem bem o que horas de ócio atrás de um balcão de loja de roupas de ginástica, num bairro de classe média alta, durante uma crise econômica mundial podem fazer com a mente de uma pessoa) e concluí que ela também tem seus vários movimentos dentro de um único, que é a própria vida, e que estes por várias vezes são movimentos contrários, ou ainda cíclicos. É incrível como uma situação que um dia te causou medo pode passar a ser habitual e que, quando se trocam os atores ou o cenário, pode de repente passar a ser aterrorizante novamente. Este pode parecer um texto cifrado, secreto, e talvez seja, porque fala de mim e de sentimentos meus, mas ao mesmo tempo é um texto que se encaixa à realidade de qualquer pessoa. No fundo, seguimos todos o mesmo roteiro apenas com interpretações diferentes. Buscamos sempre o bom andamento dos nossos “movimentos”, buscamos sempre nos movimentar. A diversidade é boa, a adversidade é quem complica tudo...
O ruim de tudo isso, é que não fui uma boa historiadora na medida em que me deixei influenciar pelo meu objeto de estudo (agora estou estudando os pagodes...) e ele tem até me encantado em algum aspecto. Voltei a ter medo do que já era banal, voltei a desconhecer aquilo no que já era catedrática, voltei a desprezar o que desejava. São os ciclos, os movimentos. A gente sempre volta pro lugar de onde partiu, mas cada recomeçou traz um cenário totalmente novo que é capaz de tornar irreconhecível a mais famosa das histórias.