quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Teresa



TERESA
Manoel Bandeira, 1925.

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara pareccia uma perna

Quando vi teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos eperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Lembro que da primeira vez que li este poema gostei tanto que quis ser Teresa. À época eu enviei pro meu então namorado e perguntei: “eu sou a sua Teresa?”.
Por que mulheres fazem estes tipos de perguntas estúpidas que obrigam os homens a buscarem em seus passados remotos ou recentes a resposta?
Ele me respondeu que não poderia me dedicar o poema nem fazer de mim sua Teresa por já ter existido outra Teresa antes de mim a quem havia presenteado com as palavras de Manuel Bandeira. Murxei!
Aprendi que não se deve fazer perguntas ao par romântico se não tiver certeza da resposta? Nada! não aprendi nada!
Ontem cheguei em casa e perguntei ao meu namorado (que já não é mais aquele da Teresa) se ele ainda me achava bonita. Ao que ele prontamente me respondeu: “sempre achei!”. Não satisfeita com a fofura do menino, numa ânsia louca de ser novamente decepcionada por uma resposta baseada num pretérito construido por outras tantas Teresas, perguntei: “falta alguma coisa?”. Os dois segundos de silêncio necessários para que o rapaz concatenasse a pergunta e me respondesse pareceram uma infinidade de horas. Rufaram os tambores, tremeram meus joelhos, o chão começou a rachar para se abrir quando, de re pente, num soar de clarins me veio a resposta: “se falta alguma coisa eu não percebi”. Ooooooooooonwwwwwwww! Gente! Completamente diferente! O trauma terminava ali e eu tinha a certeza de que o meu namorado é coisa mais fofa que já inventaram.
Não se deve fazer comparações entre o novo e o velho quando se trata de pessoas, mas no meu caso comparações e análises do comportamento humano são inevitáveis. E, graças a Deus, a comparação teve um saldo extremamente positivo!

Já que comecei com um poema de Manuel Bandeira, termino com outro, desta vez dedicado ao meu amor:

Manuel Bandeira

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

2 comentários:

Alexandre Luz disse...

Sensacional! Você escreve bem, menina! Só uma dúvida: quando você fará essa pergunta a ele novamente?

Ana Lívia disse...

amada... que belo!
eis o momento de redenção do passado, de absolvição dos pecados e, mais importante que todo o resto, de liberdade! Liberta-te do teu passado, menina! Seu presente é tão bonito e pleno e intenso! Viva-o! faça deste o seu futuro passado. Tenhas certeza de que as lembranças serão mais doces!