quarta-feira, 22 de julho de 2009
Macaé e maus costumes
Engraçado como regimes terminam, mas costumes permanecem. É como dizia uma professora minha: “fazer uma revolução política é fácil, dificil é fazer uma revolução de costumes, de pensamento”. O “Antigo Regime” tupiniquim terminou faz já algum tempinho, mas herdamos e reproduzimos costumes da época até hoje. Macaé é um belo lugar pra se observar este tipo de coisa. Pra quem não sabe, a região de Macaé, antes das empresas petrolíferas sonharem em habitá-la, sempre foi dominaga por clãs familiares, tal qual a vizinha Campos dos Goytacazes – que foi um importante polo escravista do Brasil.
Dia desses eu estava relendo um livro intitulado “Negociação e Conflito” (deixando o meu namorado sem entender o motivo da releitura, uma vez que a cada parágrafo eu soltava uma risadinha debochada e sarcástica. Logo depois eu expliquei a ele que só relia pra afagar o meu ego intelectual, e também porque os documentos do apêndice eram muito bons.) do João José Reis. Este livro tem documentos fantásticos publicados como apêndice. Num deles há uma fala de um escravo que ao ser interrogado pela polícia acha por bem ressaltar que ele pertance ao Visconde (que agora não consigo me lembrar de que) numa tentativa de intimidar a autoridade. É como se ele dissesse: “Suncê sabe cum quem ta falano?”. Era como se a autoridade, o poder e as posses do dono passassem pro escravo naquele momento, porque ferir, prender, ou alienar de alguma forma a ele era o mesmo que causar dano ao seu senhor, afinal de contas, mexendo com ele estar-se-ia mexendo numa propriedade legítima do tal Visconde.
Isso também acontece aqui nas longínquas terras de Macaé. Para ilustrar tenho dois exemplos maravilhosos. O primeiro trata de uma das “tias” da faxina aqui da empresa. Ela trabalha na casa do Country manager e costuma tomar para si a autoridade que é dele. Para ela a proximidade dele (por lavar as cuecas dele, sei lá) a torna tão poderoso quanto e esta impáfia é clara em quase todas as falas dela, ainda mais quando está a mando dele. Tal qual esse escravo do Visconde... Outro exemplo é o de uma engenheira recén-contratada. Ela é sobrinha de um dos últimos fazendeiros da antiga Macaé. Tem um sobrenome tradicional e a pose de sinhá. Todas as vezes que vem ao almoxarifado buscar alguma coisa, o faz como se estivesse dando órdens aos peões da fazendo do titio.
É assim a vida nesta terra de Malboro, os maus costumes são passados de pai para filho, de geração em geração. Esses dias eu fiz uma afirmação pavorosa sobre o povo brasileiro... mas isto é assunto para um outro post.
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Um comentário:
Ana, isto não acontece só em Macaé. Acontece comigo em Belo Horizonte.
A empresa que trabalho é uma das maiores de Minas Gerais no seu ramo...
Mas, esta empresa é tocada por irmãos que sempre tiveram algum cargo político no governo do estado. Ai já viu, né? Amigos de aliados políticos e de parentes são sempre colocados para dentro. E sabe o pior de tudo? Eles geralmente só servem para infernizar a sua vida e tratar os outros com desprezo. Enquanto um sóciólogo júnior recebe mixaria e trabalha até final de semana, um amigo de aliado trabalha três vezes por semana e ganha mais.
É triste a vida.....
Beijos!!!
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