segunda-feira, 2 de abril de 2007

Pôr-do-sol


É inexplicável a paz que um pôr-do-sol proporciona. Mesmo depois de um dia terrível, ou naqueles momentos de profunda tristeza, assistir algo tão magnífico, imponente e intocável, como o sol se entregar ao mar dando às montanhas um dourado inigualável num ato de profunda solidariedade, é simplesmente maravilhoso. Mostra-nos que até mesmo o rei dos astros sabe a hora certa de se retirar, fechando o espetáculo da vida com chave de ouro, dando oportunidade para que a lua também brilhe e encante a noite. É curioso como a vida é feita de antíteses que, apesar de existirem para ser o oposto do outro, são indispensáveis para que possamos pensar em tais coisas. Assim, sol e lua, noite e dia, bem e mal, tristeza e felicidade, homem e mulher. Mas os opostos são maravilhosos, pois, como já disse o poeta certa vez, “Não existiria som se não houvesse o silêncio, não haveria luz se não fosse a escuridão...”.
A natureza e inexplicavelmente maravilhosa e complexa. Um homem que consegue se ater aos menores detalhes da vida, e que reconhece o quão passageira ela é, nunca morrerá de tédio porque para cada coisa ruim que ele encontrar vai sempre achar uma outra que a supere e a anule. Poderíamos usar qualquer outro exemplo, mas nenhum outro ilustra tão bem o ciclo da vida como o pôr-do-sol. Pois o sol nasce mesmo quando não há mais esperança, acabando com as trevas e permitindo nascer a esperança de um novo dia, é o sol a melhor moldura para a criação do maior artista e é também ele quem acaba com o cansativo dia de trabalho anunciando o tão esperado descanso.
Visão privilegiada tem quem pode sentar-se numa pedra e apreciar o sol descer lentamente, dourando as montanhas, beijando o mar e dando a esta um brilho inigualável e extremamente convidativo nas águas. Enquanto isto, algumas pessoas vem a este mundo sem saber o porquê, vivem buscando alcançar coisas que não querem realmente e que não precisam tanto, saindo da vida sem tê-la vivido.
E então, olhando um dia o pôr-do-sol no Arpoador, me veio a pergunta: “ Como conseguimos ser infelizes?”. Sabemos que estamos nesta vida de passagem e, na verdade, viver bem não é uma tarefa tão difícil. Temos todas as coisas das quais precisamos e uma série de outras que inventamos para que passemos a precisar delas, mas viver realmente na essência da palavra é muito fácil e parece que esta é uma descoberta de poucos, os poucos que conseguem ser felizes. Garanto que se olhássemos mais ao nosso redor, déssemos mais importância às coisas pequenas, víssemos as belezas que nos rodeiam, a vida certamente seria melhor. Se esperássemos sempre que o melhor acontecesse, se buscássemos aprender com as derrotas e nos alegrar com as vitórias, seríamos mais sábios. A final, como bem diria o Padre Antônio Vieira, sempre se pode cair mais. Porém, mais uma vez, se repararmos os sábios ensinamentos das pequenas coisas que são desde o início perceberemos que após a tempestade vem a calmaria, após uma seqüência de ondas grandes o mar se acalma, após a neblina o sol aparece e, que se quisermos, após a briga acontece a reconciliação. Não é preciso muito para ser feliz é necessário apenas saber amar. Saber amar o amor, saber amar a vida, saber amar o próximo, saber amar a esperança e saber amar as pequenas coisas que fazem toda a diferença. A criação divina é perfeita porque fala por si só, basta que saibamos ouvi-la. Os céus e terra proclamam a glória de Deus. Glória esta mais resplandecente que o sol, que não conseguimos olhar tamanha a intensidade do seu brilho.E para pergunta que me veio naquela tarde enquanto apreciava o espetáculo do sol logo encontrei a resposta: somos infelizes porque buscamos muitas vezes o que não precisamos por motivos que não temos.

Nenhum comentário: