quarta-feira, 25 de abril de 2007

A Tese do Coelho


Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
R - Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado?
C - Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho sem tirar os olhos do trabalho.
R - Humm .. . e qual é o tema da sua tese?
C - Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais de animais como as raposas.
A raposa fica indignada:
R - Ora! Isso é ridículo! Nos é que somos os predadores dos coelhos!
C - Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
L - Olá, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
C - Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.
O lobo não se contém e cai na gargalhada com a petulância do coelho.
L - Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
C - Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova. Você gostaria de me acompanhar à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e ... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido... Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.
MORAL DA HISTORIA:
- Não importa quão absurdo é o tema de sua tese.
- Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico.
- Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria.
- Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...
- o que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR...
OBS: este texto foi repassado pelo meu padrinho por e-mail. Não sei quem é o autor.

domingo, 22 de abril de 2007

O MÁRMORE E A MURTA




“Os que andastes pelo mundo, e entrastes em casas de prazer de príncipes, veríeis naqueles quadros e naquelas ruas dos jardins dois gêneros de estátuas muito diferentes, umas de mármore, outras de murta. A estátua de mármore custa muito a fazer, pela dureza e resistência da matéria; mas, depois de feita uma vez, não é necessário que lhe ponham mais a mão: sempre conserva e sustenta a mesma figura; a estátua de murta é mais fácil de formar, pela facilidade com que se dobram os ramos, mas é necessário andar sempre reformando e trabalhando nela, para que se conserve. Se deixa o jardineiro de assistir, em quatro dias sai um ramo que lhe atravessa os olhos, sai outro que lhe descompõe as orelhas, saem dois que de cinco dedos lhe fazem sete, e o que pouco antes era homem, já é uma confusão verde de murtas. Eis aqui a diferença que há entre umas nações e outras na doutrina da fé. Há umas nações naturalmente duras, tenazes e constantes, as quais dificultosamente recebem a fé e deixam os erros de seus antepassados; resistem com as armas, duvidam com o entendimento, repugnam com a vontade, cerram-se, teimam, argumentam, replicam, dão grande trabalho até se renderem; mas, uma vez rendidos, uma vez que receberam a fé, ficam nela firmes e constantes, como estátuas de mármore: não é necessário trabalhar mais com elas. Há outras nações, pelo contrário — e estas são as do Brasil —, que recebem tudo o que lhes ensinam, com grande docilidade e facilidade, sem argumentar, sem replicar, sem duvidar, sem resistir; mas são estátuas de murta que, em levantando a mão e a tesoura o jardineiro, logo perdem a nova figura, e tornam à bruteza antiga e natural, e a ser mato como dantes eram. É necessário que assista sempre a estas estátuas o mestre delas: uma vez, que lhes corte o que vicejam os olhos, para que creiam o que não vêem; outra vez, que lhes cerceie o que vicejam as orelhas, para que não dêem ouvidos às fábulas de seus antepassados; outra vez, que lhes decepe o que vicejam as mãos e os pés, para que se abstenham das ações e costumes bárbaros da gentilidade. E só desta maneira, trabalhando sempre contra a natureza do tronco e humor das raízes, se pode conservar nestas plantas rudes a forma não natural, e compostura dos ramos.”
Pe. António Vieira
Fragmento do Sermão do Espírito Santo, capítulo III (1657)

O padre António Vieira, português de Lisboa que chegou ao Brasil com seis anos em 1614, foi um missionário da Companhia de Jesus que dedicou a sua vida à catequização dos índios além de criticar a escravidão e a diferenciação entre cristãos-novos e cristãos-velhos.
O que me chama a atenção neste trecho do Sermão do Espírito Santo, escrito por Vieira, é a atualidade do que está contido nestas linhas. Ele faz uma comparação entre a fé e a maleabilidade da crença dos povos europeus e das gentes nativas das terras do Brasil – aos quais ele chama de brasis. Em um trecho que antecede este acima transcrito o padre conta uma estória que tem como protagonista os apóstolos e como enredo o “ide” -“ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” Mc 16:15 – último mandamento de Jesus aos seus apóstolos antes de sua assunção aos céus. Na tal estória, o padre diz que Jesus teria “repartido” o mundo e dado cada região a um apóstolo:

“Repreendeu Cristo aos discípulos da incredulidade e dureza de coração, com que não tinham dado crédito aos que o viram ressuscitado, e sobre esta repreensão os mandou que fossem pregar por todo o mundo. — A S. Pedro coube-lhe Roma e Itália; a S. João, a Ásia Menor; a São Tiago, Espanha; a S. Mateus, Etiópia; a S. Simão, Mesopotâmia; a S. Judas Tadeu, o Egito; aos outros, outras províncias, e finalmente a Santo Tomé esta parte da América em que estamos, a que vulgar e indignamente chamaram Brasil.”

A explicação dada pelo padre ao fato de ter ficado Tomé com o Brasil é a seguinte:
“E como Santo Tomé, entre todos os apóstolos, foi o mais culpado da incredulidade, por isso a Santo Tomé lhe coube, na repartição do mundo, a missão do Brasil, porque, onde fora maior a culpa, era justo que fosse mais pesada a penitência.”

Pois é. Como paga pela sua incredulidade, a penitência de Tomé seria fazer crer o povo mais incrédulo da face da Terra. Porque da mesma maneira que criam com facilidade em tudo o que lhes oferecia, descriam e voltavam aos seus antigos costumes. Os “brasis” eram como a murta, extremamente maleáveis, suscetíveis a qualquer forma que se lhe quisesse dar, mas bastava uma desatenção - o menor descuido que fosse – e, tal qual a murta que tendo tomado a forma dada pelo jardineiro, por um descuido deste, dela começam a crescer galhos e folhas desordenadas que lhes fazem voltar a seu estado natural de mato, arbusto sem forma. Enquanto que, ao contrário dos brasis sem personalidade, os europeus eram como o as estátuas de mármore que uma vez esculpidas resistem aos tempos e jamais voltam a sua forma original de pedra bruta. Porque o mármore é duro e rijo e, sendo difícil de talhar, requer árduo e demorado trabalho, mas uma vez terminada a escultura esta não se desfaz ou volta a sua forma original, ou seja, com o mármore não há trabalho desperdiçado. O contrário acontece com a murta, que não exige muito esforço do jardineiro para se deixar esculpir, mas dentro em breve o trabalho daquele será em vão, pois a sua bela escultura voltará a ser um disforme e verde arbusto.
É extraordinário ver que os brasis permanecem estátuas de murta e os europeus estátuas de mármore. E digo em relação à religião também. O Brasil tem hoje, talvez, todas as religiões se fazendo presentes e sendo representadas em seu solo. Católicos, candoblesistas, umbandistas, feiticeiros, macumbeiros, espíritas, mulçumanos, indus, budistas, esotéricos, protestantes das mais variadas denominações – e cada dia aparece uma nova denominação – sendo estes últimos os que mais crescem no país, segundo os números do IBGE. O Brasil tem um povo dado a religiosidade, ao sincretismo religioso, às simpatias, aos patuás. Tudo que se oferece a este povo é aceitado de bom grado. Quem não conhece alguém que, se dizendo católico, crê em reencarnação, faz simpatia pra conseguir casar, tem medo de assombração, freqüenta mesas brancas, vai consultar adivinhadores ou até aproveita a sexta-feira pra se vestir de branco e bater um tambor no terreiro de dona Mariazinha. Isso sem falar naqueles que se dizem ateus graças a Deus, ou em protestantes que se pegam em simbolismos como por a água em cima da televisão para ser abençoada, freqüentar sessões de descarrego, ver anjos, comprar o óleo da unção ou quaisquer outros artigos vendidos por homens de má fé que gostam de se aproveitar da credulidade de um povo idólatra. Temos também aqueles que não deixam de pular as sete ondas no ano novo, ou de se vestir de branco pra ter paz... Coisas tão corriqueiras que, por mais que não nos demos conta, são crendices fruto de um sincretismo religioso de um poso sem personalidade há exatos 507 anos. Enquanto isso, fiquei sabendo hoje através de um casal de missionários que na Espanha menos de 0,4% é membro ou congregado de igrejas protestantes, sendo a metade desta porcentagem composta por imigrantes que moram na Espanha. Ou seja, os espanhóis são ainda estátuas de mármore que não esqueceram do seu passado, pelo contrário, o que são hoje é fruto de um árduo trabalho feito por seus escultores há séculos. Muitos missionários voltam, desistem, por não verem o seu trabalho dar frutos. Porém, apesar da maioria da população se dizer católica, poucos são os praticantes. A rigidez que lhes faz ser mármore está no cuidado das tradições, não na prática destas.
Apesar de sermos nós murtas e eles mármores, nas estátuas de murta crescem a cada dia mais galhos que as deformam, mas ate as sólidas estátuas mármore estão perecendo. António Vieira não se deu conta de que, por mais que demore, a ação do tempo e a erosão não perdoam nem as mais belas estátuas do mais alvo mármore.

segunda-feira, 16 de abril de 2007








Hoje foi dia de trote na faculdade. Um certo professor fez uma observação (estupefato com toda aquela movimentação que contava com apitos, tambor e gente pintada por todos os lados cantando musicas estranhas) e disse: “Não sei porque o governo brasileiro ainda insiste em investir em universidades e não passa a investir em escola de samba. Será que os governantes ainda não perceberam que a vocação deste povo é para o batuque e não para os livros?”
Alguns podem achar a consideração do professor preconceituosa e injusta para com a capacidade intelectual do povo brasileiro. Outros, mais preconceituosos, podem justificar os batuques – presentes desde os trotes até nas passeatas de movimento estudantil – como uma influência da galera afro-descendente que entrou pelas cotas...
Sobre o assunto eu só posso dizer o seguinte: Não há quem sendo saudável dos ouvidos resista a uma batucada, ou não sendo cego consiga não se deixar encantar por uma belo rebolado e um samba no pé.
E vivam a mistura, o samba, o batuque e os primos!!!

sábado, 14 de abril de 2007

Um levante para levantar-se


Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser a nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos a saber.
Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo.
Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa e canoas.
Não há de nos obrigar a fazer camboas, nem a mariscar, e quando quiser fazer camboas e mariscar mande os seus pretos Minas.(...)
Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação.(...)
A estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar sempre de posse da ferramenta, estamos prontos para servirmos como dantes, porque não queremos seguir os maus costumes dos demais Engenhos.
Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos empeça e nem seja preciso licença.

O texto acima é composto por fragmentos do tratado proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seus escravos durante o tempo em que se conservaram levantados, ou seja, rebelados, em 1789. A partir dele podemos pensar vários aspectos da vida dos escravos no Brasil dos séculos XVIII e XIX, podemos pensar vários aspectos da vida do ser humano em qualquer tempo ou espaço.
Há quem diga que é necessário pouco para ser feliz, e é o que vemos no trecho acima. Os escravos poderiam ter exigido muito mais que um dia de folga e liberdade para brincar, dançar e cantar. Eles não pediram nem prata nem ouro, mas somente o necessário para se viver com um pouco de dignidade. É impressionante como existem pessoas que por mais que vivam rodeadas de luxo, e com um patrimônio num crescimento progressivo, nunca estão satisfeitas com o que tem, nunca estão felizes e querem sempre mais. Vivem numa busca infindável pela estabilidade e pela paz que não alcançam.
Há também aqueles que ao serem perguntados sobre a vida, sempre dizem: “vai indo”, “levando como posso”, “como Deus tem permitido”... E são incapazes de olharem ao redor de si mesmos e reparem que apesar das dificuldades não lhes falta comida, abrigo ou vestimenta, não percebem que não estão desamparados e não vêem as pequenas coisas cotidianas que são responsáveis por simples momentos inesquecíveis e que não se repetirão.
Tem gente que mesmo ganhando R$15.000,00 por mês gasta 25.000 e, por isso, vive num stress continuo e com a corda no pescoço. Não é o emprego que é ruim ou o salário que é pouco, é a maneira como a gente se dispõe a trabalhar ou a maneira como a gente gasta, e com o que se gasta, o dinheiro que nos faz mais felizes ou infelizes.
O necessário para fazer aqueles escravos felizes a ponto de aquietá-los e torna-los servos daquele senhor pode parecer pouco para quem só consegue imaginar a plena num bilhete premiado da Mega-sena acumulada. Mas é verdadeiramente feliz aquele que é capaz de encontrar a felicidade nas pequenas coisas, aquele que é capaz de ver Deus num pôr-do-sol. Este sim dorme sossegado, porque sabe que as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã, a cada nascer do sol.

terça-feira, 10 de abril de 2007

escravos da escravidão

Eu tomei uma atitude radical no final de um dia conturbado. Cheguei em casa e, ao me dar conta da rotina patética a qual eu estava me submetendo, ao perceber que o sorriso do meu rosto estava escravo do que eu via no meu scrapbook, ou no de outras pessoas, me dei conta da estupidez e da futilidade que serviam de suporte para tudo aquilo. Fui radical, encerrei a minha conta no orkut e ponto. Mas não é tão fácil assim largar um vício. É bem verdade que minhas visitas às páginas das pessoas que me interessam e às comunidades que me despertam curiosidade têm acontecido com uma freqüência muito menor, e que para isso tenho usado o orkut da minha mãe. O que é bem mais emocionante, porque me dá uma sensação de clandestinidade. Sinto-me quase uma espiã.
E foi numa dessas minhas investidas à moda 007 através do orkut da minha mãe que entrei numa comunidade da qual ela era membro. A comunidade tinha fóruns sobre preconceito, num deles existia a seguinte afirmação: todos nós escondemos um preconceito.
É aquela história de sempre né: “onde você esconde o seu preconceito?”. Pois é, pode ser que todos nós tenhamos algum tipo de preconceito, pode ser que exista em algum lugar uma boa alma que não tenha preconceito nenhum. Mas, a final, até o fato de não olhar com bons olhos o preconceito dos outros é uma atitude preconceituosa para com o preconceito alheio. Eita papo brabo, parece conversa de maluco.

Eu queria mesmo era chamar a atenção para esta foto:


Olhe bem para estes dois escravos que carregam a sua senhora numa bela “cadeirinha”. Repare. As roupas dos dois são iguais, a condição de escravo é a mesma para os dois, a função também é a mesma e a senhora é a mesma. O que os torna diferentes é a maneira como cada um veste as roupas, como se portam, a postura de cada um em relação a tal “cadeirinha”, a maneira como cada um encara a sua condição de escravo. O primeiro está de pé à frente da senhora pronto a acatar e executar qualquer ordem por ela dada, tem um semblante de um servo bom e submisso, cabisbaixo, tem o chapéu nas mãos como quem o tira por educação na presença de uma dama. Este parece o típico escravo que se algum dia ganhar a alforria não se incomodará em aceitar uma oferta para continuar trabalhando para aquela mesma senhora e morando naquela mesma casa, isso se ele mesmo não pedir para ficar. Já o escravo da direita é o total oposto do primeiro. A cartola continua impecável sobre a sua cabeça, um de seus braços descansam sobre os “braços” da “cadeirinha, - é como se ele mostrasse que é ele, o ser animado, quem descansa sobre o ser inanimado - e não o contrário, o outro braço está nas “cadeiras”, ou seja, na altura dos quadris, a pose é completada pelas pernas cruzadas, o que inspira um certo ar de malandragem. No conjunto, a posição do escravo da esquerda dá a entender que este é um daqueles cativos que certamente não se prolongarão no cativeiro e que como primeira atitude de homem livre tentará comprar um escravo para ratificar a nova condição, e assim melhor usufruir dela.
Como podemos ver nesta foto, não é a camada social na qual o homem está inserido que determina o seu caráter e as suas atitudes. Pelo contrário, são estas últimas que são capazes de mudar a condição social. É a vontade individual que torna possível qualquer mudança.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Pôr-do-sol


É inexplicável a paz que um pôr-do-sol proporciona. Mesmo depois de um dia terrível, ou naqueles momentos de profunda tristeza, assistir algo tão magnífico, imponente e intocável, como o sol se entregar ao mar dando às montanhas um dourado inigualável num ato de profunda solidariedade, é simplesmente maravilhoso. Mostra-nos que até mesmo o rei dos astros sabe a hora certa de se retirar, fechando o espetáculo da vida com chave de ouro, dando oportunidade para que a lua também brilhe e encante a noite. É curioso como a vida é feita de antíteses que, apesar de existirem para ser o oposto do outro, são indispensáveis para que possamos pensar em tais coisas. Assim, sol e lua, noite e dia, bem e mal, tristeza e felicidade, homem e mulher. Mas os opostos são maravilhosos, pois, como já disse o poeta certa vez, “Não existiria som se não houvesse o silêncio, não haveria luz se não fosse a escuridão...”.
A natureza e inexplicavelmente maravilhosa e complexa. Um homem que consegue se ater aos menores detalhes da vida, e que reconhece o quão passageira ela é, nunca morrerá de tédio porque para cada coisa ruim que ele encontrar vai sempre achar uma outra que a supere e a anule. Poderíamos usar qualquer outro exemplo, mas nenhum outro ilustra tão bem o ciclo da vida como o pôr-do-sol. Pois o sol nasce mesmo quando não há mais esperança, acabando com as trevas e permitindo nascer a esperança de um novo dia, é o sol a melhor moldura para a criação do maior artista e é também ele quem acaba com o cansativo dia de trabalho anunciando o tão esperado descanso.
Visão privilegiada tem quem pode sentar-se numa pedra e apreciar o sol descer lentamente, dourando as montanhas, beijando o mar e dando a esta um brilho inigualável e extremamente convidativo nas águas. Enquanto isto, algumas pessoas vem a este mundo sem saber o porquê, vivem buscando alcançar coisas que não querem realmente e que não precisam tanto, saindo da vida sem tê-la vivido.
E então, olhando um dia o pôr-do-sol no Arpoador, me veio a pergunta: “ Como conseguimos ser infelizes?”. Sabemos que estamos nesta vida de passagem e, na verdade, viver bem não é uma tarefa tão difícil. Temos todas as coisas das quais precisamos e uma série de outras que inventamos para que passemos a precisar delas, mas viver realmente na essência da palavra é muito fácil e parece que esta é uma descoberta de poucos, os poucos que conseguem ser felizes. Garanto que se olhássemos mais ao nosso redor, déssemos mais importância às coisas pequenas, víssemos as belezas que nos rodeiam, a vida certamente seria melhor. Se esperássemos sempre que o melhor acontecesse, se buscássemos aprender com as derrotas e nos alegrar com as vitórias, seríamos mais sábios. A final, como bem diria o Padre Antônio Vieira, sempre se pode cair mais. Porém, mais uma vez, se repararmos os sábios ensinamentos das pequenas coisas que são desde o início perceberemos que após a tempestade vem a calmaria, após uma seqüência de ondas grandes o mar se acalma, após a neblina o sol aparece e, que se quisermos, após a briga acontece a reconciliação. Não é preciso muito para ser feliz é necessário apenas saber amar. Saber amar o amor, saber amar a vida, saber amar o próximo, saber amar a esperança e saber amar as pequenas coisas que fazem toda a diferença. A criação divina é perfeita porque fala por si só, basta que saibamos ouvi-la. Os céus e terra proclamam a glória de Deus. Glória esta mais resplandecente que o sol, que não conseguimos olhar tamanha a intensidade do seu brilho.E para pergunta que me veio naquela tarde enquanto apreciava o espetáculo do sol logo encontrei a resposta: somos infelizes porque buscamos muitas vezes o que não precisamos por motivos que não temos.

domingo, 1 de abril de 2007



Ontem saí de casa e fui ao cinema assistir "Marie Antoinette".

Confesso que me interessei pelo filme mais pelo oscar de melhor figurino que ganhou do que por vontade de assistir um filme de época. Minhas experiências com filmes que reproduzem fatos históricos, ou filmes épicos, não têm sido as melhores e, por isso, não espereva muito de Maria Antonieta.

Eu só não contava com o que vi na telona. O filme não é ruim, é péssimo. E não digo isso me baseando em erros de pesquisa que possam ter sido cometidos, até porque não conheço bem o período histórico para falar, mas no filme em si que é muito chato. É cansativo e entediante, além de ter uma péssima trilha sonora.

Acho que é o tipo de filme que agrada esteticamente e é, sem dúvida, um daqueles filmes que não se deve assistir na sessão das 21h.

Agora que venha 300!

Qual a razão da razão?

Por que pensamos tanto? Ou melhor, por que repensamos tanto?
É só comigo que isto acontece, ou todas as pessoas tem a mesma mania de ficar reconsiderando decisões ou repensando possíveis conseqüências de atos já ncias de atos jo possiveis ou todas as pensoas tem a mesma mania de ficar reconsiderando decisões ou repensando possíveis conseqüencias de fatos consumados?
Eu tenho essa mania de ficar remoendo as coisas. É como se eu fosse um copo vazio que vai enchendo de pingo em pingo, e estes “pingos” nada mais são do que as minhas preocupações. O estranho é que, geralmente, eu fico a pensar sobre assuntos sobre os quais eu já havia tomado as decisões que eu achava que eram as mais acertadas.
Quem olha de fora acha que está tudo bem e, quando eles menos esperam, eu transbordo deixando a todos sem entender o que esta acontecendo. O que mais me incomoda é que essas minhas “enchentes” preocupam as pessoas que eu amo. Acabo fazendo as pessoas à minha volta acharem que são as responsáveis pelo meu sofrimento quando, na verdade, a única culpada pelas minhas dores sou eu mesma. Eu sou o meu pior algoz.
Sou traída e açoitada diariamente pela minha razão, que me faz viver num profundo mar de incertezas no qual eu me afogo aos poucos.
E tem gente que tripudia da fé alheia, que acha inadmissível e incompreensível um sujeito abrir mão da razão e crer em algo que racionalmente não pode ser explicado. Mas qual a virtude da razão afinal? Dou graças a Deus pela fé, pois sem ela e sem Ele eu certamente enlouqueceria. É a fé que permite que não sejamos consumidos.
Não tenho motivos para não acreditar na frase: “A ignorância é o segredo para a plena felicidade”.