segunda-feira, 21 de maio de 2007
Romaria -Parte I
Dia desses, minha tia perguntou se eu tinha vontade de voltar à Atibaia. Tinha ido com ela há alguns anos nesta linda cidade, num festival de flores e morangos, que tinha me agradado muito. Atibaia me deixara um gostinho de “quero mais”. Por isso, de pronto respondi que queria, mas não sabia eu que a excursão era na verdade uma romaria. Como eu já tinha dito que iria com ela, não voltei atrás, encarei com coragem e curiosidade a romaria que me levaria à Aparecida - onde visitaríamos a Basílica, Atibaia – onde ficaríamos hospedadas num convento, e, finalmente, passaríamos por Guaratinguetá – a cidade de Frei Galvão.
Era um ônibus lotado de senhoras entre 50 e 80 anos, algumas poucas com sues respectivos maridos, exceto minha prima (trinta e poucos anos) e eu (vinte anos). Tudo ali me parecia documento. Era como se estivesse num trabalho de campo, como se fosse um trabalho antropológico. Na ida, muita fartura, entre a reza do terço e outra oração comíamos muito. As senhoras, todas muito prendadas, tinham levado os mais diversos bolos, salgados, biscoitos, sucos, etc.
Ao avistarmos a cidade de Aparecida, as senhoras começaram a cantar o hino da padroeira e a aplaudir uma imagem da santa que se localiza no alto de um morro. Comportavam-se como se a imagem de fato tivesse vida. Entraram na basílica cantando e aplaudindo, pedindo à santa por várias vezes que rogasse por elas. Ali comecei a entender o que vai no coração de um romeiro. Lembrei-me dos judeus que precisavam sair de suas casas e cidades para irem adorar e sacrificar em Jerusalém num determinado período do ano (Macarrão, me corrija se estiver errada), e foi esta impressão que tive quando entramos em Aparecida, me parecia que elas tinham chegado à cidade santa. A basílica é monstruosamente bela, além de grande, e muito diferente da que vi quando fiz a ultima visita ainda criança. Há lá diversão para todos os gostos: um enorme aquário que tem até tubarão; parque de diversão; uma enorme feira permanente de artigos religiosos; no alto de um morro foi feita a reconstrução da vida de Cristo desde o nascimento até a sua morte, em tamanho um pouco maior que o natural; uma praça de alimentação enorme, com comida de quase todos os tipos, onde pode encontrar gente de todo o país. A quantidade de ônibus trazendo romeiros é assustadora. Outro aspecto que me chamou muito a atenção agora, e do qual não tinha me dado conta quando criança foi o formato da nave central da basílica. Ela foi construída em forma de cruz – embora não pareça se olhada de fora, e tem um altar redondo em mármore onde o padre é obrigado a fazer a homilia andando em círculos e tendo sempre que dar as costas para alguém. Por causa disto, talvez, encontra-se em toda a extensão da basílica televisões de plasma de altíssima resolução (não vou dizer que são da LG pra não fazer jabá de graça no meu blog) que mostram o padre no altar. Em cada extremidade da “cruz” da basílica tem uma capela, e também nelas se encontra as tais tvs de plasma.
Ao observar o espantoso crescimento da basílica e do “mercado de artigos religiosos” que se encontra lá, ouvi de uma romeira:
“É... infelizmente o comércio é o que sustenta a fé.”
(continua)
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4 comentários:
Você está correta na sua referência ao judaísmo.
Como o Templo era em Jerusalém, pelo menos três vezes ao ano os judeus se dirigiam para lá em Pessach (Páscoa, para vocês hereges), Shavuot (que começa hoje ao pôr-do-sol e comemora o final da colheita e a entrega da Torá aos judeus e o mundo e que, se eu não me engano, vocês chamam de Pentecostes) e Sucot (que vocês não chamam de nada, pois essa não passou para o calendário cristão). E depois dizem que a idolatria não é um fenômeno revivido pelos cristãos...
Imagens, comilança e comércio. Se o judeu Jesus voltasse, ia que ter expulsar de novo os comerciantes do Templo... e as tvs de plasma da LG...
êpa, eu não sou católica, não adoro imagens e não tem tvs de plasma na minha igreja. sou luterana e, como disse,fui ver de perto ver uma romaria católica para fazer companhia a minha tia que é católica.
nas foi bem interessante. Acho que agora vou começar a observar os judeus. Quando tiver festa no arraial você me avisa!!
huahuahu
Ana, vou fazer coro com o J.R. Góes, você tem que criar juizo e converter-se (ou re-converter-se?) ao catolicismo.
Me deu saudades, o seu relato. Sempre gostei dessas romarias e viagens com as senhoras matronas da igreja que eu freqüentava. Tinha muito chá, muitos bolos (neste momento, pensando naqueles doces deliciosos, bolos de banana, compotas etc sinto tb uma profunda saudade do meu pâncreas), e rezávamos o terço e ninguém pensava que o Movimento Carismático destruiria tudo aquilo. A basílica é realmente linda. Jurei que só voltava lá com uma máquina fotográfica Pentax, ou seja, vai demorar MUITO até eu voltar...a menos que alguém me empreste. Também me lembro do comércio, tinha todo tipo de quinquilharia.. eu e minha irmã entramos numa das lojas e nos deixaram tocar um berrante, foi uma vergonha porque não saiu nada lá de dentro daquele chifre.
Foi uma época muito feliz. Escrevi demais..foi mal.
vc ñunca escreve demais Priscilla. vc escreve é bem pra caramba!
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