Lamento não ter uma fotografia da minha saudadosa avó, Dª Nair Borges de Araújo. Foi uma mulher tão forte quanto o seu nome. Mas não vou aqui escrever uma mini-biografia dela, o que é uma pena. É que hoje, ao lado de uma das pessoas que mais amo, lembrei de algumas frases dela. Vovó era muito sábia, apesar de sua pouca instrução, e apesar também de suas frases serem popularmente conhecidas e repetidas - por não serem de autoria própria - na boca dela pareciam ter um sentido muito mais interessante e uma aplicabilidade muito maior. Algumas ainda são repetidas por aí: "Quem come e guarda, come duas vezes", "Ouça mais do que fale, você tem dois ouvidos e uma única boca", "não há mal que sempre dure ou bem que nunca acabe"... Frases conhecidas e bobas, mas que na voz dela pareciam muito mais sábias.
Aí, pensando nos ensinamentos dela quanto à paciência e quanto às poucas palavras (quando em dizia que devia ouvir mais que falar) me lembrei, por ocasião de uma conversa, de uma musica de Cartola na qual, ao falar à sua mulher de um antigo amor, ele diz que vai calar para não magoá-la. Aí pensei na vovó e no que me dizia sobre a matemática do corpo, sobre ter mais ouvidos que boca. Muitas vezes calar é o melhor podemos fazer, o desespero e a impetuosidade só nos leva à atitudes desastrosas, a calma e a temperança por sua vez nos recompensa, ora, quem come e guarda, realmente, come duas vezes...
Certa vez, num engarrafamento terrível na Contorno, eu resolvi descer do ônibus e ir a pé achando que seria mais rápido. Aí, depois de muito andar, um senhor me gritou de dentro de um ônibus e me mandou subir. Eu entrei no ônibus e sentei ao lado dele, no primeiro banco, ele era o cobrador. Aí ele começou a me contar uma história, sem me perguntar se eu queria ouvir, parecia que era o pagamento pela carona e até o motivo da carona. Ele queria me ensinar os malefícios do desespero. E me contou como perdeu um excelente emprego de pintor de uma casa psiquiátrica por causa do desespero. Eu achei que tinha aprendido a lição, comecei a tentar colocar mais vezes em prática a temperança. Mas, humana que sou, na primeira vez que meu coração doeu me desesperei novamente - e quando me desespero costumo escrever textos terríveis que só fazem mal aos que escolho para ler - e magoei a quem eu só quero fazer feliz.
O desespero é assim, devastador. Falar demais, como me ensinou a minha avó, só atrapalha, é muito mais lucrativo ouvir e saber calar nas horas certas como bem dizia ao sábio poeta.
segunda-feira, 9 de julho de 2007
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