
Meus amigos sabem que sou uma boboca. Raramente digo não às pessoas que eu amo, quando posso dizer sim, mas jamais prometo alguma coisa que não possa cumprir. Faço tudo que está ao meu alcance, e tenho uma terrível mania de querer agradar e ser bem quista por todos (isso é horrível, eu sei, mas só um psicanalista poderia me ajudar).
Logo, sou uma daquelas pessoas que perdoa quase tudo. Digo quase porque traição é única coisa que me tira do sério (ou que me tira o riso). E a pior personificação da traição é a falta de palavra. Não admito que me prometam algo que não vão ou não possam cumprir. É pior que me dar uma surra. Mas, parece que as pessoas me escolhem - talvez por saberem que sou crédula e que dou crédito a qualquer um - pra me prometerem o que não vão cumprir.
Quando eu tinha seis anos, minha tia me disse que traria uma casinha de bonecas para mim. Ela estava vindo dos EUA. Eu fui buscá-la no aeroporto, louca pela casinha, sonhando com a casinha, e adivinhem só, ela ainda no aeroporto deu a casinha, que havia me prometido, para a afilhada dela e na minha frente. Quando eu ia completar 15 anos, esta mesma tia se juntou com as outras e me prometeram uma festa, me deixaram sonhar e imaginar, e meses antes tiveram o prazer de me dizer que não a fariam. Terminando o ensino médio - disse minha madrinha - vou te pagar um curso pré-vestibular! Ela também não cumpriu.
Terminei assim mesmo o ensino médio, e minha outra tia me disse que pagaria uma faculdade de Direito pra mim, na Cândido Mendes. No último dia da inscrição para o vestibular Uerj ela me disse que não pagaria mais a faculdade. Fui chorando e correndo pro correio mais próximo e fiz a inscrição pra Uerj e passei pra História, olha o mal que ela me fez! (brincadeirinha, os amigos que fiz lá na FFP valeram a pena)
No aniversário do meu pai, em maio, meu padrinho veio aqui em casa e viu as fotografias dos meus inventários de escravos alforriados e, ao saber que minha câmera digital tinha pifado, disse que me daria outra. Espero-a até hoje.
[não falarei das flores, das rosas]
Hoje foi meu pai, que acaba de me dizer que não vai cumprir uma promessa que me tinha feito. Foi a que mais doeu, porque os outros são os outros mas ele é meu pai. Não quero achar que ele é como os outros, que não tem palavra, mas me dói do mesmo jeito.
Parece que as pessoas acham engraçado me prometer coisas que não vão fazer. Só não entendo como é que eu ainda continuo a acreditar nas pessoas.
Então deixo um pedido para todos aqueles que vivem ao meu redor e têm algum contato comigo: Me digam quantos "não's" forem necessários, mas não me traiam, não me prometam coisas que não podem cumprir.