quarta-feira, 18 de julho de 2007

Batuque na cozinha


10/7/2007
Na versão de Sinhá Moça do MP da Bahia, os escravos nunca apanhariam
O Ministério Público da Bahia denunciou a Rede Globo, que exibiu a novela Sinhá Moça, por racismo. As cenas de açoitamento de Sinhá Moça, segundo o promotor Almiro Soares Filho, feriam a dignidade da pessoa negra, minando o auto-respeito e a auto-imagem dos descendentes dos escravos. Para defender os negros, o promotor eliminaria os abusos sofridos por eles. Na novela idealizada pelo MP da Bahia os escravos nunca apanhariam. Independentemente da verdade histórica. A igualdade racial jamais será conquistada com a impostura e desonestidade intelectual. Isso vale tanto para o caso do professor Paulo Kramer como para a novela da Globo.
Diogo Mainardi (Colunista da Revista Veja)

Gente! O que é isso? O que mais eles querem? Na minha mente infantil, na única analogia possível, só consigo comparar o Movimento Negro àqueles dois ratinhos que vivem a querer dominar o mundo: Pink e Cérebro. Parece ridículo usar desenhos animados para ilustrar pensamentos, mas nada é mais ridículo do que este "Lado Negro da Força". E o que me deixa mais indignada é saber o que agora sei. Neste domingo passado fui à casa da minha tia avó para almoçar, mas com a verdadeira intenção de fazer mil perguntas sobre os membros da família que não cheguei a conhecer (sou temporão) e para tal fui com um gravador em punho e comecei as perguntas. Eu achava que era negona, ora eu preciso passar alisante no cabelo e isso sempre me pareceu prova bastante da minha origem também afro, mas dei com os burros n'água. Depois de muita conversa, pude perceber que não existe negro "puro" na família, na verdade, o que sempre houve foi mistura de português com mulatos (que eram geralmente filhos de outros mulatos com portugueses). Ou seja, nenhum preto tipo "A". Fiquei triste, sinceramente, pois o meu plano de requerer as terras do Cezar Palace (no Leblon) me dizendo um remanescente quilombola foi pelo ralo. Se olharem minha árvore genealógica, vão perceber que sou uma fraude.
Fraude sou assim como todo brasileiro o é. Assim como os baianos são. Ninguém tem pedigree neste país. Certa vez, numa aula de Antropologia, eu disse a professora que o Brasil era um país de vira-latas, e ela quase teve um ataque, mas é isso mesmo, Joana Bahia que me desculpe. Todos somos misturados. Até mesmo os descendentes de europeus que aqui vivem, porque é um tal de alemão que casa com italiano, neste pais há um vuco-vuco de nacionalidades que não pára.
Agora ainda tem essa, os caras do "movimento" estão querendo esquecer que os escravos apanharam e sofreram, estão querendo esquecer a sua história. E é por esta droga de história do negro que eles estão obrigando a nós, professores de história, a estudarmos história da África (e me pergunto o que mais tem na história da África que não seja guerras e escravizações sucessivas e cíclicas entre os povos daquele continente, que não aprenderam a escravizar-se com os "brancos") para que o "negro" brasileiro tenha do que se orgulhar. Ora, não é o negro brasileiro um brasileiro antes de ser negro? E sendo brasileiro, não tem ele uma história nacional da qual possa se orgulhar ou se envergonhar como qualquer outro cidadão seja ele da cor que for? Se não for assim, vamos ter que fazer a história dos judeus, sem poder falar no holocausto, teremos de ensinar a história dos chineses, coreanos, japoneses, turcos, árabes, italianos, alemães, ou seja, de todos os povos que se fazem presentes hoje no Brasil e que aqui fizeram descendência, mas sem nunca poder falar dos episódios tristes das histórias deles. Isto é um absurdo! Uma mixórdia, como gosta de dizer meu tio Jorge. O que é isso minha gente? Onde está o bom senso? Em nome desse esquecimento dos abusos da escravidão, terá a historiografia brasileira que ficar ESCRAVA de uma memória produzida? Estaremos nós sendo censurados?

Imagem:www.gettyimages.com

3 comentários:

Prill disse...

não sei como você ainda tem ânimo, Ana? a lógico não dá mais ibope não.
ruim mesmo é não ter Pasárgada pra onde fugir.

eu ia dizer mais alguma coisa... ah sim! o teu quilombo já era! hahahaha o meu vai firme e forte. posso escolher um em Minas ou um na Bahia. uhuu! com certeza fico com o da Bahia por motivos que não precisam ser citados.

quanto à alforria:
"que a escrava nunca mais apareça na casa de seu senhor" po...esse pedaço tira toda a possibilidade do presente. você não dá um presente e depois expulsa a pessoa da sua casa...
quanto à Florência, a gente vê mais tarde. tem outras ainda. tem aquela do cara que tem de pagar 5 anos de condição, mas no penúltimo mês, parece, resolve pagar pra ir logo embora. impressionante.

um beijo
ps.:tô sendo malhada na ultima postagem hahahaha a Flávia tá dizendo que sou louca por comparar os acontecimentos pré-pós-Jango com os acontecimentos d'agora. o que acha? pode ser..devo estar falando merda. rs

beijos novamente

*Mr. Tambourine* disse...

Impressionante!
Gostei muito da sua linha de argumentação. Muito ácida.

Achei muito interessante esta passagem:

"Ora, não é o negro brasileiro um brasileiro antes de ser negro? E sendo brasileiro, não tem ele uma história nacional da qual se possa se orgulhar ou se envergonhar como qualquer outro cidadão seja ele da cor que for?"

Você foi ao ponto. Nas Ciências Sociais ( meu curso) esta discussão é muito latente. Afinal, até que ponto a identidade racial é mais importante para a constituição de uma sociedade do que a identidade nacional?

Eu, sinceramente, acho dificil me posicionar nesta discussão, pois tem argumentos válidos para os dois lados. Mais quero que saiba que o seu foi um dos mais interessantes que li.

Parabens!

ps: to aqui porque você deu a resposta que eu iria dar para o cara de Cuba....

Ricardo disse...

Apesar de tanta bobagem dita, creio que se vc tiver paciência para estudar irá melhorar sua cabeça. Procure também as listas de internet vc aprende e não paga nada. Pesquise o assunto. Sua experiência pessoal de uma família sem identidade ou com vergonha dela, produz esta confusão mental em que vc se encontra. Mas a culpa é da tal 'democracia racial' ou de quem acredita nela.